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A palavra é censura

A palavra é censura

Acredito que todos vocês estejam cientes da notícia que vem preocupando os fãs de mangá em todo o mundo: segundo a ANN, uma proposta legislativa foi enviada dia 24 de fevereiro para o governo Metropolitano de Tokyo com a intenção de restringir “representações visuais” de personagens que aparentem ou soem como menores de 18 anos em “situações sexualmente provocativas”.

Embora a intenção de previnir apologias à pornografia infantil seja clara, os critérios para tal já não são tão óbvios. Afinal qualquer censura e restrição a materiais artísticos está sujeita à arbitrariedades muito sérias.

Acho meio preocupante ter o governo dizendo se um personagem desenhado “aparenta” ter mais de 18 ou o que é “sexualmente provocativo”. Isto não poderia castrar a liberdade de expressão dos artistas? Aparentemente muitos mangakás acham que sim, tanto que a lista de artistas que se opõem ao projeto de lei é tão heterogênea quanto possível,  incluindo nomes como Moto Hagio (Heart of Thomas),  Tetsuya Chiba (Ashita no Joe) e  Rumiko Takahashi (Inu Yasha).

Pensem na vasta gama de quadrinhos em que os personagens centrais são adolescentes e em como eles teriam que ser modificados para não ganhar um selo de 18+ ou  de “nocivo para a juventude” . Isto é, não falamos apenas de materiais que mostrem franco ato sexual com personagens infantis ou pré-adolescentes.  Falamos de critérios inteiramente não-objetivos. Uma mulher de seios pequenos, um homem magro ou baixinho, estas características em personagens adultos podem ser colocadas em xeque de acordo com o que  quer que seja a opinião dos reguladores sobre “aparência infantil”.

De qualquer maneira, a votação do projeto foi colocada em hiato até junho.

Penso que no caso do Japão, a aprovação desta lei poderia ser até uma espécie de tiro no pé, já que o país saiu “machucado” da crise econômica mundial, com  alguns decréscimos significativos nas vendas de mangás impressos, como foi divulgado no Shoujo Café, ANN e diversos sites especializados.

Eu não entendo da legislação japonesa, então não sei até que ponto estas restrições filtrariam a publicidade ou a faixa etária para a aquisição dos títulos. Só posso imaginar que com limitações na origem, mais difícil conseguir os mangás e animes para todos. Talvez esta lei motive mais casos pelo mundo como o de Christopher Handley, sentenciado nos EUA por ter meia dúzia de mangás estilo lolicon em sua coleção de centenas de volumes. A “caça às bruxas” teria novos motivos para demonizar os “obscenos quadrinhos japoneses”, mesmo que não contenham shotacon ou lolicon (materiais eróticos com crianças).

Aliás, no ano passado, a série  Viewfinder, de Ayano Yamane, sofreu restrições parecidas na Alemanha. Mesmo não contendo cenas de sexo com menores, o título foi considerado “prejudicial” e toda a publicidade foi vetada, incluindo comentários em blogs do país. Com isso já podemos ter uma prévia do que poderia acontecer com os mangás no Japão.

Falando em Viewfinder, sua re-edição americana também está causando polêmica. Desta vez as fãs estão preocupadas com possíveis cortes e censuras de cenas de sexo no mangá.

Deb Aoki do About.com fez uma entrevista com Michelle Mauk da Digital Manga Publishing, a editora que licenciou o título nos EUA. Viewfinder deve ser publicado sob o selo Juné, ao invés da 801 media, reservada para títulos mais explícitos. No entanto Michelle deixou claro que este é um título especial. O que isso significa em termos de censura…? Não sabemos, mas parece ser bom sinal.

Há um motivo para  (Viewfinder) estar sob o selo Juné – mesmo com suas cenas explícitas. Queremos dar para a Finder series a distribuição mais abrangente possível, e mesmo que seja explícito, tem uma história forte.

Realmente queremos dar a este título uma oportunidade de alcançar os fãs que o querem, especialmente quando os títulos da Be Beautiful eram quase impossíveis para a maioria dos fãs encontrar.

Então este título é especial, e estamos o tratando como algo especial. Estamos mirando alto aqui, então temos que fazer valer!

Cá entre nós, eu também acho estranhíssimo que um título “Mature” (18+), selado em plástico e com avisos colados na frente, precise ter censuras e cortes em termos de conteúdo sexual entre personagens maiores de idade. Está certo que Viewfinder contém temática de estupro, violência, e se for para cortar estas partes é melhor que não seja publicado ( afinal não sobraria muito do mangá. ^^; ). Afinal, que bem faz a censura de “fluidos corporais” como no caso de alguns outros títulos da Juné?

Mais uma vez, precisamos aguardar para ter uma resposta. E torcer.



Sobre Tanko

Tanko é ilustradora e arte-finalista, viciada em podcast e café. Fujoshi, otaku, nerd e esquisitona. Vive nas montanhas chuvosas imperiais. Ver todos os tópicos de Tanko

12 Comentários a A palavra é censura

  1. Estela

    Essa medida que as autoridades japonesas pretendem tomar é no mínimo lamentável. O controle da venda e do acesso ao material já não seria suficiente? Além disso, as pessoas que consomem esse material não têm, supostamente, maturidade bastante para acessar tal conteúdo? Casos como o do famigerado otaku que violentava e assassinava crianças e em cujo poder encontraram mangás desse genêro são isolados. Ainda assim, não dá prá relacionar uma coisa à outra. Isso parece uma carimbada do Estado chamando o cidadão de idiota, tolhendo suas escolhas e suprimindo a livre expressão dos artistas.

    • Pois é, não sei como é o controle de venda por lá, acho até que seria uma medida interessante que se regulamentasse o que fosse shota/loli "para valer".

      Mas aí como falei, esbarra nos critérios de julgamento e em possíveis arbitrariedades que podem sim causar aberrações por excessos. (lembram que censuravam as calcinhas das Sailors nos EUA e as armas/cigarros em One Piece?)

      Fora que seria justo que uma medida como essa viesse acompanhada de pesquisas mais profundas sobre o comportamento dos fãs de moe que justificasse estas novas restrições.

  2. Xeretinha

    Bom, isso ainda dá muito pano para manga.

    De qualquer maneira se essa lei for aprovada vai se extremamente prejudicial para o próprio mercado de entretenimento japonês e para nós, adoradores de Yaoi. Só me falta o gênero Yaoi se tornar underground.

    Pelo que eu sei os fans de vários países estão se mobilizando com uma petição contra essa lei, mas eu tenho minhas dúvidas de que essas assinaturas tenham algum efeito sobre os políticos japoneses. Ninguém quer estrangeiros dando pitacos em sua política interna.

    Então fica a força dos artistas locais contra a dita cuja. Talvez estejamos esquecendo que apresentação dessa lei seja um pedido da própria sociedade japonesa.

    Quanto a censura a Viewfinder, mistééério… 🙂

    • Também não acho que assinaturas estrangeiras devem fazer alguma diferença. Afinal é uma questão interna, por mais que possa vir a nos afetar.

      Para medir a vontade da sociedade como um todo acho que só com plesbiscito, mas aí não acredito que seja uma questão tão "importante" assim para chegar a esse ponto. Como falei, acho a idéia bem intencionada, mas mal colocada em forma de proposta.

      Acho que a DMP não quer falar sobre o assunto, eu até perguntei como quem não quer nada, rsrs… XD

  3. Sinceramente acho que essa lei não passa não. Desse jeito que tá escrita, não – afinal, como (e quem vai) determinar se uma pernonagem "parece" ter menos de 18 anos? E são milhões, bilhões anuais que a indústria perderá, dinheiro é um fator que sempre pesa… Acho que o Japão quer mostrar que pode tomar uma atitude contra pedofilia virtual, pois tem muita pressão internacional para isso. Acho sim que material loli/shota é nojento e doentio, mas a censura é o pior caminho. Porque censura não tem freio, se alguém de repente julgar que esse ou aquele material deva ser banido baseado sei lá em que critério estapafúrdio e tiver a lei a seu favor, é o fim da liberdade de expressão em pleno século XXI… E outra, se existe gente que desenha crianças em situação sexual e tanta gente consome, isso é um grave sintoma. Proibir não resolve nada, a coisa vai continuar na clandestinidade, o que se deve fazer é chamar a sociedade para o diálogo.

    • Também acho que apesar de PARECER bem intencionada (não sei como é a política de lá para dizer que não é alguma medida desesperada de alguém para ganhar popularidade/respeito ), a lei está com um texto muito subjetivo. Pode respingar em basicamente qualquer segmento da indústria.

      Sem entrar no mérito de gostar ou não, de minha opinião sobre quem consome ou não, acho estranho que este material shota/loli seja permitido EM ALGUM LUGAR DO MUNDO, por mais liberal que seja o país.

      afinal, como (e quem vai) determinar se uma personagem “parece” ter menos de 18 anos?

      Eu não sei qual critérios usariam um país que censurava pêlos pubianos e órgãos genitais adultos detalhados… será que isto também não teve influência na diminuição da idade aparente dos personagens em algumas publicações? XD

      Acho que o Japão quer mostrar que pode tomar uma atitude contra pedofilia virtual, pois tem muita pressão internacional para isso.

      Está aí mais um ponto que me confunde, aparentemente o Japão permitiu livremente este material até que ele se difundisse o bastante para gerar preocupação em outros países.

      Os japoneses como sociedade não parecem tão preocupados assim. Talvez seja mesmo uma questão cultural… mas que deveria sim ser repensada.

  4. Aline Klaki

    Eu fico perdida com essas coisas. Não entendo o Japão.
    É como vc disse, por que um material voltado ao público adulto precisa de censura? Não vejo lógica nisso…

    E, nossa, o que tem de personagem com mais de 20 anos com carinha de 14 em mangá de qualquer gênero… Vai ser difícil avaliar isso.

    Enfim… Censura nunca resolve nada.

    • E o mais estranho é que se uma medida dessas passasse, talvez as escolas dos mangás começassem misteriosamente a parecer escolas de filme americano, onde os estudantes não aparentam ter menos de 25 anos na cara. XD~ (ninguém ia querer deixar de colocar cenas picantes nos mangás e ao mesmo tempo ninguém ia querer tomar um selinho de "nocivo para a juventude")

  5. Anna

    eu detesto shotacon, mas confesso que achava bonitinho quando eu tinha lá meus 17 anos… tinha até algumas fotos no pc e tals, mas nunca cheguei a ler mangá pq achava forte demais. Hoje em dia não quero nem chegar perto. Qual a graça de ver mulequinhos se pegando (ou sendo pegos) quando a gente tem a opção de ver carinhas sexys, encorpados e maduros??? *__*

    Eu acho que material shotacon, lolicon e afins nem devia ser publicado pra começo de conversa, coisa mais esquisista u_ú e não é só mangá, tem muitos games com esses temas também!

    O que me incomoda nessa lei ai é que a gente não poderia mais ler yaois adolescentes! nooo… meus colegiais apaixonados, não vivo sem eles *sniff*

    • Eu nunca tive a mais ínfima atração por crianças, acho que talvez só quando eu mesma era criança. Mesmo um menino de 18 anos hoje em dia, que sou quase uma balzaquiana, para mim não teria o menor interesse. Talvez por isso eu tenha lido shotacon e não me importado que isso pudesse ser censurável.

      Mas pensar que alguém, diferentemente de mim possa estar lendo e pensando em crianças reais, é meio assustador.

      Com adolescente é coisa mais complexa, já que os mangás voltados para adolescentes são os que normalmente os mostram em situações "sexies" também. ^^;

      Muitas pessoas ao ler sobre este projeto de lei citaram um projeto na Austrália que visava proibir pornografia com mulheres de seios pequenos pela mesma questão de evitar apologias à pedofilia! XD

      Em tempo, eu não ligo muito para mangá de estudantes, mas que isso pode restringir uma parte significativa do gênero… ah, pode. XD

      • Anna

        Conforme a gente vai ficando mais velha, os interesses vão mudando também ne? Quando eu tinha meus 17, 18 anos meus mangás prediletos eram os que se passavam em escolas, com adolescentes em seus 16, 17 pq eu me identificava mais….. mas agora com 23 eu passei a gostar de mangás com personagens mais adultos, que trabalham e tem mais responsabilidades e tals. mas ainda gosto de historinhas colegiais. acho meigo XDD

  6. Mell

    Bem, sobre a Alemanha, se eu não estou fazendo confusão, o que eu li uma vez é que as (ou alguma delas, sei lá) editoras alemãs não publicam material que contém estupro.

    Essa decisão me parece bastante sensata. Agora, proibir debates e coisas do tipo sobre esse tipo de material? Isso não me parece nhum pouco adequado.

    E quanto ao Japão, dúido muito que essa lei passe. Porque o número de coisas a serem censuradas seria gigante, eu imagino. É claro,a cho muito válido combater a exploração da imagem infantil em situações sexuais. Mas quais os parâmetros para dizer que tal personagem "aparenta ser menor de idade" e que tal cena tem algum "cunho sexual" (claro que não me refiro a nada explícito)?

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