Aviso/TW: discussões sobre estupro, relacionamentos abusivos, drogas, abuso infantil, e codependência
Momo é um fudido na vida. Sem emprego, sem habilidades, sem teto, ele gasta o pouco que consegue arranjar com bebida, jogos e cigarros. Quando a situação aperta, ele vende seu corpo sem hesitação. E é assim que ele encontra o jovem Yata o encontra, seminu limpando o cu em um banheiro público, após ter sido obrigado a fazer sexo com três homens depois de perder uma partida de Mahjong.
Yata fica com pena da situação de Momo e o convida para passar a noite no seu apartamento. Mais tarde, ao ver que não teria mais para onde ir sem correr o risco de ser estuprado de novo, Momo implora para ficar mais um tempo na casa e, em troca, promete fazer qualquer perversão que o outro quiser. De início Yata recusa a oferta de sexo de Momo, mesmo achando o outro a coisa adorável da Terra, mas como o marmanjo é bem… persuasivo acaba cedendo.
Antes de continuar a resenha, vamos deixar algo bem claro: Yatamomo aborda relacionamentos tóxicos. Ninguém nesse mangá pode ser considerado uma “boa pessoa” e, enquanto quase todos tentam melhorar ao longo da trama, não é suficiente para diminuir as merdas que eles fazem. Se você fica desconfortável com relacionamentos codependente ou abusivos, ou qualquer tipo de humor feito em cima de estupro e abuso sexual, esse mangá não é para você.
Momo e Yata são dois opostos e o relacionamento deles funciona… de certa forma. Yata é ingênuo, trabalhador, atencioso e adora coisas fofas – o que inclui momo -, porém é ciumento, possessivo e totalmente brutal na cama. Momo é vagabundo e preguiçoso, pensando sempre no jeito mais rápido de conseguir dinheiro, o que geralmente envolve sexo. A química dos dois vem do fato de que seus conflitos costumam ser resolvidos com uma dose de diálogo e muito sexo.
Aliás, esse mangá tem muitas cenas de sexo.
O que começa como uma relação baseada em interesse e pena, acaba sendo positiva para Momo. Yata é um terrível amante, mas é cuidadoso, limpa a casa, e se importa com os sentimentos dele até uma parte (e ainda dá dinheiro pra ele). Comparado aos “patrocinadores” que teve antes – que variavam de velhos bêbados a pervertidos sádicos – Yata é quase o paraíso. Tanto que, não querendo mais ser um peso no orçamento da casa, Momo começa a trabalhar para ter seu próprio sustento e assim conseguir seu próprio cafofo um dia. Porém, o passado dele não vai largar do seu pé tão cedo e, pior, vai querer prestar contas.
Será que Momo é capaz de encontrar o amor numa situação como essa? Bem, se você considerar uma relação codependente como algo bom nesse contexto….
A mangaká Harada é conhecida pelos seus mangás perturbadores e não que hesitam em transitar no pântano de assuntos espinhosos que o BL costuma chegar. Ela é mais conhecida pelo círculo Paraiso, onde faz doujinshis de Gintama, mas meu primeiro contato com ela foi através da oneshot Messiah no Yakubi. E não foi uma boa primeira impressão (risos). Enquanto estupro em BL não é novidade e, infelizmente, é usado como recurso barato de roteiro, poucas foram as vezes que vi um nível de sadismo igual ao dessa autora. Sem falar que mais da metade dos personagens dela parecem psicopatas prestes a fazer algo muito ruim.
Por essas e outras razões que afirmo que ler um BL da Harada é como encarar um trem desgovernado em chamas. Não é bonito, não vai acabar bem, mas você não consegue matar a curiosidade de saber como isso vai terminar.
Para terem noção do quão “podre” essa autora é, o primeiro volume Yatamomo é um dos mangás mais ‘leves’ da Harada. A narrativa é rápida, com diálogos divertidos e piadas sujas até demais. As cenas se sexo não soam forçadas dentro da história e Momo é um protagonista cativante, mesmo sendo um vagabundo preguiçoso.
No entanto, apesar de divertido, existe uma sombra de tragédia que paira sobre o mangá. Porque Momo teve uma vida de merda e a cada risada fica mais claro de que ele está tentando desesperadamente varrer o que sente de verdade para debaixo do tapete. Isso se confirma ao ler a prequel Sumomono, onde é confirmado que Momo se prostitui desde criança, e o segundo volume de Yatamomo, ainda em publicação, que vai mais fundo no relacionamento complicado que teve com a mãe.
Esse mangá com certeza não é para todos. Apesar de ser uma leitura problemática do início ao fim, a leitura é de perder o fôlego e confesso que não consegui desgrudar das páginas de Yatamomo. Harada joga pesado, mas consegue captar o leitor com a delicadeza de uma bola de demolição. Recomendo o quadrinho para aquelas que querem ler algo perverso e “ruim”, o pior que o BL pode oferecer, mas que ainda consiga rir da própria desgraça.
Olá. 🙂
Ótima resenha, Yatamomo é tudo isso que você falou.
Harada é assim, mesmo nos mangás mais leves sempre tem cenas pesadas. Acho interessante porque sai daquele ambiente escolar meio singelo e lida com temas mais adultos. Me lembra Fusanosuke Inariya, porque fiquei chocada quando li Giglio, mas me apaixonei pela temática e pelos traços. A mesma coisa aconteceu com Harada. 🙂
O mangá mais recente que li dela foi Yoru to Asa no Uta.
Oi yaoi bom …
Ola e como gay. :->
Nossa, uma resenha sobre Yatamomo, assim que eu vi o título da postagem sai correndo pra ler. A Harada é uma autora fantástica, por mais estranho que isso soe pra mim. As obras dela não são bonitas, elas são grotescas, mas ao mesmo tempo, são delicadas, pelo menos, no meu ponto de vista. Meu primeiro contato com ela foi Piercing e, nossa senhora, como eu amei esse one shot, o estilo dela, a escrita, nossa, foi sensacional, toda essa delicadeza e cuidado tanto na arte quanto na escrita misturado ao aquela subversão que você encontra em praticamente TODAS as obras dela. Por mais que eu não seja uma grande fã desse lado "obscuro" do BL, eu não consigo deixar de apreciar as obras dela, que são tão interessantes. Como alguém já comentou, ela mostra os relacionamentos tóxicos do jeito que eles são, podres, e é isso que diferencia ela da grande maioria.