Na nossa segunda matéria sobre as revistas BL, vamos tratar daquelas que, embora sejam bem populares e vendam bastante, não necessariamente estão focadas em acariciar os padrões estéticos do BL dito comercial. Elas são as que classificam como conceituais e artísticas.
CONCEITUAIS
De maneira mais coloquial, podemos dizer que as revistas conceituais (que nem sempre são propriamente revistas) produzem antologias que unem todas as obras em um ponto em comum. Na atualidade, a mais “poderosa” e com resultados mercadológicos mais palpáveis é a OmegaverseProject e a que mais abraça esse conceito é a publicação Charles.
Assim como nos livros de Biologia do Ensino Médio, começamos falando de “casos à parte” antes de entrar nos reinos. A Charles não é uma revista. É mais como uma pequena editora dentro de um grupo maior. Ela é o braço BL da parceria Media Soft com Sankosha. São 4 publicações irmãs: Charles, Phillipe, Gabriella e Sky High. As duas primeiras são focadas em BL e as últimas em shoujo e josei. Charles e Gabriella possuem conteúdo mais adulto, a Phillipe além de obras originais, possui em seu “cast” doujinshis eróticos de mangás como Haikyuu e Kuroko no Basket (eu nem sabia que existia editora de doujinshi Ò_o e vende bem na Amazon japonesa, viu?) e a Sky High, de shoujo mais leve.
A Charles Comics é inovadora por natureza. Suas antologias são, em sua maioria, um tonkobon de volume único, focado num tema específico e dele extraem várias one-shots. Homens musculosos, pele bronzeada, estrangeiros… Além de ser primeira publicação BL que trouxe em seu arsenal autores de gay comic, sendo ela a principal fiadora de uma nova reforma de conceitos. Muitos artistas de gay comic se classificam como BL desde que começaram a publicar lá. Outros separam. Famosos artistas de doujinshis gays como Draw Two e Tsukumo Go já tiveram seus trabalhos publicados ali. Esse ano uma série de 7 doujinshis de de Tsukumo Go foram compilados num mangá, Junai Immoral (que inclui além do doujinshi-título, outros famosos como Minna no Ie, Under Control e Rakujitsu). A coletânea de Tsukumo chegou a entrar tanto nas listas da Amazon como também nas da rede de lojas Animate.
THE OMEGAVERSE PROJECT
The OmegaverseProject, criada em 2015 e como o nome sugere, é uma revista cujos mangás abordam o subgênero Omegaverse. Pertence ao grupo editorial Poe Backs, na ramificação Fusion. Pioneira ao introduzir no Japão o subgênero de origem ocidental, a publicação que já está em sua quarta edição e com exposições marcadas para o mês de dezembro emplacou o hit comercial Kashikomarimashita, destiny, de Sachimo, que se tornou o primeiro omegaverse a entrar na lista dos mais vendidos da Oricon, que inclusive noticiamos na página do Blyme no Facebook. O mesmo Kashikomarimashita, destiny entrou três vezes nas listas de álbuns mais vendidos por ter ranqueado seus BLCDs. Outros sucessos incluem Sayonara Koibito, Mata Kite Tomodachi, de yoha (também conhecida como Onsen, em seus doujinshis de Osomatsu-san e Free!) que também entrou na lista dos CDs mais vendidos em uma semana no Japão pelo seu BLCD, a maravilhosa história familiar Tadaima, Okaeri , de Ichi Ichikawa (de longe um dos meus mangás favoritos).
O sucesso da iniciativa da OmagaverseProject foi tão grande que as revistas de BL mais comercial colocaram em seus menus obras do subgênero. As mais famosas inciativas da concorrência vieram da revista Daria, que publica a saga Pendulum Kemonohito/Remnant e a a gigante Be x Boy, que criou uma revista própria focada em Omegaverse e colocou Sayonara Alpha na lista dos mais vendidos da Oricon esse ano. O portal BL chill-chill pôs nada mais, nada menos, que 6 títulos Omegaverse na lista dos 10 mangás mais importantes do período dezembro 2016-julho 2017. Além disso, como já foi falado, os dramas CD Omegaverse foram o sucesso do ano no nicho BL.
ARTÍSTICAS
[OBSERVAÇÃO] Antes de começar, gostaria de lembrar a(o) leitor(a) que é equivocado afirmar categoricamente que as revistas dessa categoria e os mangás delas publicados são superiores aos das demais categorias (comercial/profissional, conceitual, gigantes). Não se prendam ao significado profundo e filosófico pro termo artístico. O fato de ter escolhido esse adjetivo foi simplesmente a falta de um menos abrangente.
As revistas “artísticas” (não gosto de usar aspas, pois parece que é ironia kkk portanto usarei sem daqui pra frente) são aquelas em que a linha editorial do grupo preferiu abordar mangás de temática mais incomum ou também mais complexa, que nem sempre corresponde com os lugares comuns do BL comercial. Seu sucesso com as fujoshis das faixas mais velhas e as das mais novas daria pra gerar um bom artigo científico. Nelas encontramos mangás onde alguns temas tabus são abordados de maneira diferenciada. Um exemplo seria o estupro. Enquanto no BL comercial ele ainda é tratado por alguns mangás de maneira que causa incômodo por sua naturalização tácita, nas revistas artísticas o caráter diabólico e as consequências negativas dessa violência se expressam com mais frequência. Outra características seria que, com formas mais suaves, as revistas artísticas tem mais liberdade experimental. Nesse quesito elas se aproximam das conceituais. Existem várias revistas dessa categoria (assim como outras várias da conceitual), mas três delas se destacam na atualidade: Opera, Canna e OnBlue. Falaremos agora sobre as duas últimas.
Canna faz parte do grupo Printemps Shuupan e é uma revista que se molda com o tempo. Os mangás mais antigos da publicação facilmente a colocariam nas categorias mais comerciais. Logo, seria mais apropriado ter escolhido a revista Opera, essa sim, artística por natureza (e que tem um dos melhores BLs da atualidade em seu menu, Ganbare, Nakamura-kun, de Syundei). No entanto, nos últimos tempos ela vem se aprofundando nas categorias que distanciam do convencional, e sucessos comerciais recentes atestam a sua importância, principalmente devido ao mangá-símbolo dessa categoria, Nii-chan, de Harada, ser publicado nesta revista. Esse ano até mangá de traço bem caricato, de cartunista de jornal, entrou pra revista. Eu não sei o enredo da história, que foi lançada meses atrás, mas aparentemente é sobre um casal gay na casa dos sessenta (ou mais) anos.
Uma temática que se tornou recorrente na revista é a kemono, que trata de seres fantásticos ou furry, subgênero que é vasto nas gays comics. Bouzu to Kumo, de Haji, foi um sucesso tão grande que o subgênero se tornou cativo na revista. Koketsu Dining, de Haruhira Moto, inclusive entrou na Oricon mangás e teve um BLCD. Boa parte da nova leva de mangás aborda kemono. Seria o próximo passo de artistas que nesse momento estão na Charles? Só o futuro poderá nos dizer, haha.
Por fim, a revista OnBlue. Das revistas BL artísticas, ela é provavelmente a primeira que as pessoas pensam. Criada no apagar das luzes do ano de 2010 e pertencente ao grupo Shodensha (especializado em shoujos/josei, fundado nos anos 1970) a revista veio com a pretensiosa premissa de ser uma revista BL diferente, com menos foco no sexo e mais no roteiro da obra. De lá pra cá muita coisa aconteceu, mas o princípio basilar foi relativamente mantido. Figurinhas fáceis na lista de mangakás consideradas”Cult”, Kumota Haruko, Shoowa, HideYoshico, Est Em, Yoneda Kou, Koiwazurai Shibito, entre outras estavam na edição inaugural da revista. E a estratégia de selecionar as queridinhas “profundas” do momento continuou. A estrela da vez é Tamekou, cuja arte estampou boa parte das capas recentes.
Por falar em capas, as artes da revista OnBlue enchem os olhos. O trabalho visual e o esquema de cores tradicional branco-azul bebê levam a(o) leitor(a) a ficar mais mais presa(o).
Dentre os sucessos dessa publicação, podemos citar um dos queridinhos tanto do fandom japonês como do ocidental: Harukaze no Étranger, de Kii Kanna, premiado trabalho e que entrou na Oricon em 2016. Também temos Udagawachou de Mattete yo (Hideyoshico), que ganhou live-action.
Primeiro pequeno adendo: Ganbare, Nakamura-kun! (Syudei) será lançado em inglês pela editora Seven Seas ano que vem. Quem puder, compre! Uma ótima oportunidade pra conhecer uma obra de uma revista artística (no caso, a Opera) e contribuir com um artista.
Segundo pequeno adendo: QUERIDAS LICENCIADORAS OU SCANS DO MUNDO: por favor traduzam Sneaky Red (Thanat), já faz 84 anos que quero ver esse dublê do Seiya peladinho e não tem uma viva alma que ajude Y_Y
Terceiro e último adendo: Acendendo velas pra Priapus-sama que estás no Olimpo gay que alguma editora/revista publique um mangá do Itto-sensei. Os fudanshis agradecem.
E assim encerramos a segunda parte.
As próximas duas partes trarão MUITA história, já que algumas das revistas tem mais de 30 anos de estrada!
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