Fizemos uma entrevista bem bacana com Nick Narukame e July Valentine, criadoras do NiJyu Studio e responsáveis pela BL graphic novel brasileira, O Príncipe de Wonderland.
A história se passa no mundo do País das Maravilhas (Wonderland) antes de Alice cair no buraco e aparecer por lá. Aqui, Wonderland é um país normal, porém amaldiçoado devido a um pecado cometido por seu príncipe. O quadrinho ainda não é distribuído online (estilo webcomic), mas pode ser adquirido junto as simpaticíssimas criadoras. Para contato e maiores informações, acesse o Facebook da NiJyu Studio.
Confira abaixo o nosso papo!
Blyme: Quem é a equipe por trás de O Príncipe de Wonderland?
NiJyu Studio: Então, O Príncipe de Wonderland é o trabalho de estreia do NiJyu Studio que é composto por Nick Narukame (ficando a cargo do roteiro e da diagramação) e July Vallentine (Ilustrações e arte final). Num geral, somos nós que estamos por trás de tudo mesmo. (risos)
Blyme: Quem veio com a ideia e como começou essa história?
Nick: Bem, sempre tive uma admiração muito grande pela Rainha de Copas da história de Alice [Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho] e depois que fui apresentada a saga de Vocaloid, The Story Of Evil, um esboço da ideia começou a se formar na minha cabeça. Conversei com a July sobre a possibilidade de passarmos para o papel e, depois de muita alteração, acabamos dando a luz ao primeiro volume da trilogia do príncipe ruivo!
July: Sempre nos demos muita liberdade de criação nesse ponto. E o processo de criação dos personagens foi bastante diferente da normalidade. A Nick que deu apenas algumas características, símbolos que teriam ligação direta com a trama, como a cor do cabelo do Érick e seus olhos verdes e que George deveria ser forte. Depois disso, tive toda a liberdade para compor os personagens, então tive que literalmente captar a essência de cada personagem para compor uma fisionomia coerente com suas personalidades, e para mim essa é a parte mais divertida, a sensação do desafio, entende? E principalmente a satisfação de poder dar vida aos nossos personagens!
Blyme: Vocês têm atualmente 2 volumes lançados e estão partindo para o terceiro e último. Quais foram os altos e baixos durante a publicação?
NiJyu: Podemos dizer que o processo por trás de cada volume pode ser comparado a uma montanha russa. Mas não uma montanha russa qualquer… uma cheia de turbulências e trilhos cortados… mas que nos divertiu e nos fez sobreviver! Vejam bem, cada impressão de cada volume custava mais ou menos um rim e um olho esquerdo sempre que íamos fazer uma nova tiragem… éramos e ainda somos muito amadoras e a cada nova impressão lutávamos contra um novo problema que aparecia, ou que só aparecia muito depois, e fazia a gente arrancar os cabelos e chorar como dois bebês com fome de madrugada…
Tivemos que descobrir tipos de papel e aprender na marra como lidar com programas de diagramação. Além de gráfica, que sinceramente achamos ser o maior problema que os fanzineiros possuem hoje em dia! Mas, quando vemos as pessoas comprando nos eventos, ou nos procurando na fanpage do Facebook para comentar sobre os pontos da história… ah! Aí podemos dizer que cada pedacinho de estresse valeu muito a pena!
Blyme: Vocês publicaram por conta própria ou junto a alguma editora?
NiJyu: Bem, como falamos lá em cima, é tudo por nossa conta mesmo, o que dificulta um pouco em termos financeiros, mas também nos dá uma liberdade maior para mexermos com a trama.
Blyme: O Príncipe de Wonderland foi lançado no Anime Friends de julho do ano passado. Como foi essa experiência para vocês?
NiJyu: Não sabemos muito bem porque não estávamos lá! (risos) Nós temos uma amiga em São Paulo, a Lily Carroll, autora de Lollipop e Candy & Sandy, que vem nos dando MUITO apoio desde antes mesmo de sabermos o que iríamos publicar. Então, quando decidimos que O Príncipe de Wonderland seria disponibilizado para venda na forma impressa corremos para falar com ela sobre a possibilidade de levar nosso trabalho para venda na mesa dela no Beco dos Artistas, o que ela aceitou de pronto. Não esperávamos algo muito grande, então qual foi a nossa surpresa quando soubemos que os vinte volumes enviados haviam se esgotado antes das 14h! Quase desmaiamos! Bem, e foi aí que descobrimos que existia a Zine Expo (um grupo de quadrinistas independentes aqui do Rio de Janeiro) e começamos a ir nós mesmas aos eventos para expor nosso trabalho com eles. Não que a Lily tenha deixado de nos ajudar, mas pelo menos agora podemos fazer o mesmo por ela!
Blyme: E como foi a recepção dos leitores de BL?
NiJyu: Surpreendente! É muito engraçado e interessante ver como fãs de BL ficam histéricas a simples menção da palavra “yaoi”! Com alguns tínhamos que nos dobrar em mil durante os eventos para vender nosso peixe e cativar o possível novo leitor, mas com os fãs ferrenhos de BL não era necessário mais que duas palavras. Tinha gente levando para si, para a prima, para a irmã, para o papagaio, cachorro, periquito… é uma experiência muito legal ir conquistando tantas amizades nesse processo! De verdade, não esperávamos isso.
Blyme: E vocês acham que há uma distinção, na receptividade dos fãs, entre um BL novel e um mangá?
NiJyu: Sim, com toda a certeza. Apesar de a repercussão ter sido boa, sentimos que poderia ter sido muito melhor se a trama fosse em quadrinhos. Muitas pessoas ainda tem muito preconceito com histórias escritas, mesmo que com ilustrações, e víamos algumas decepções em alguns olhos quando descobriam não se tratar de um mangá.
Blyme: Acho que mais do que decepção, provavelmente eles não esperam o formato novel. Muitos dos fãs de BL estão intimamente ligados ao mangá, ou a webcomic, pois é o universo mais próximo que eles conhecem. Infelizmente, poucos estão ligados aos livros. Acho que essa realidade tem até mudado com o Wattpad e o aumento de escritores brasileiros na temática.
NiJyu: Sim, sim, vocês tem razão.
Blyme: O que vocês sentem como roteiristas e quadrinizas de um BL novel no Brasil?
NiJyu: Sinto que ainda somos muito desvalorizados e tratados com descaso por muitos. Mas ficamos com um brilho nos olhos nada discreto quando alguém volta para dizer que a nossa história está boa e que está ansioso pelo próximo volume… nessas horas, nós até esquecemos de todo o quadro de desvalorização do artista nacional e nos sentimos um pouco importantes. (risos) Achamos que o BL no Brasil tem tudo para crescer ainda mais do que os outros gêneros, pelo menos pelo que tenho visto nos eventos que participamos. Fujoshis e fundashis são mais unidos com relação a conteúdo, talvez pelo descaso das editoras conosco.
Blyme: E nós torcemos para que o reconhecimento de vocês chegue para ontem! E que possamos ver todos os artistas brilhando com seus trabalhos. Se tivesse algo que vocês pudessem mudar no mercado editorial brasileiro, o que seria?
NiJyu: Com certeza o preconceito com trabalho nacional e a “seletividade” de gênero das editoras [que publicam mangás], mesmo com obras que não são nacionais. Afinal, quantos yaois temos publicados por aqui?
Blyme: Por fim, deixe uma mensagem para os leitores do Blyme!
NiJyu: Bem, gostaríamos de agradecer a todos que leram essa entrevista e também aos que têm ou se interessaram em ter os três volumes da novel! Gostaríamos de dizer também que não vamos parar por aqui agora que terminamos esse plot! Estamos trabalhando em um novo título nesse exato instante e… bem… Ele será em quadrinhos!!! *w* E, galera, continuem sendo sempre esse fandom unido que temos visto! Sabemos que nem tudo são flores e volta e meia surge uma treta ou outra que causa a divisão de águas, mas não deixem isso nos abalar, pois é isso que torna esse fandom (o de fujoshis e fundashis) o mais lindo de todos e nos dá orgulho de estar e produzir nele! Nós com certeza amamos tudo isso e sabemos que vocês também! Então, tretas à parte, vamos viver o yaoi!!!
Blyme: Obrigado pela oportunidade dessa entrevista, Nick e July. Muito sucesso e inspiração nesse caminho de vocês!
Eu conheço pessoalmente as autoras . Li os dois primeiros volumes e amei . Vale a pena .