Nessas minhas andanças pelas “interwebs”, notei que existe muita dúvida sobre quem são os responsáveis pela produção e as decisões em um anime. Quem resolve o que será animado? O autor tem culpa de uma adaptação ruim? Por que os animes yaoi são tão raros e frequentemente tão “maltratados”?
Tentando responder a essas perguntas, fiz uma pesquisa e acho que encontrei algumas informações bem interessantes! Vamos lá?
Money makes the world go round
Primeiramente, queria lembrar que produzir uma série de animação não é nada simples e também nada barato. Enquanto um mangá já mobiliza um bocado de gente para existir e chegar ao consumidor (autores, editores, pessoal das gráficas e distribuidoras), um anime requer um batalhão de até 2000 pessoas para que seja produzido e distribuído em um prazo comercialmente viável.
E é fácil perceber o motivo: além de todo o trabalho de planejamento, roteiro, design, música, dublagem, efeitos especiais, ainda existe o processo da animação em si. A maioria dos animes é feita de forma quase que totalmente manual, isto é, quadro-a-quadro e geralmente com técnicas tradicionais de desenho e finalização. Mesmo quando há economia de animação ou a produção é terceirizada para outros países da Ásia, ainda é um bocado de trabalho.
Um único episódio pode custar de 100 mil a 300 mil dólares, o que faz com que uma série de 12 ou 24 episódios custe de 2 a 4 milhões de dólares, incluindo aí a gorda fatia das emissoras de tv.
Os números podem até assustar, mas não diferem muito dos valores de produção de animação em outros países, como os EUA ou o Brasil (estou falando de animação de verdade e não dos DVDs da Vídeo-Brinquedo). Em comparação com algumas produções ocidentais, os animes estão até “em conta”.
Agora que já deu pra perceber que um anime comercial não é algo que se faz do dia pra noite e nem é pro bolso de qualquer um, como se decide qual será o título a ser animado?
Pré-produção
Um anime geralmente surge de uma “ideia”. Esta ideia costuma partir de editoras, empresas que atuam em diversos segmentos (como a Bandai), dos próprios estúdios de animação, etc. As ideias são discutidas internamente e então transformadas em um projeto. Uma produtora ou o departamento de produção interno de uma empresa são os responsáveis por apresentar os projetos aos possíveis investidores e emissoras de TV.
Os estúdios de animação/editoras não têm como bancar um anime sozinhos e precisam de patrocínio, que hoje em dia vem de fontes diversas, como distribuidoras, empresas interessadas em licenciamentos ou veiculação de propagandas, companhias de jogos, etc. Estas empresas unem forças e constituem um comitê de produção, que vai escolher a equipe que vai trabalhar no anime e todas as estratégias de distribuição e marketing.
Muitas ideias aparecem o tempo todo dentro de um estúdio e naturalmente muitas são descartadas por falta de viabilidade financeira para sua produção, isto é, falta de interesse do pessoal da grana. Como o BL é um gênero de nicho, poucos animes são lançados por ano e em formatos mais econômicos em comparação com os de gêneros mais mainstream (e lucrativos) como o shounen.
E o autor?
A maioria dos animes é baseada em uma obra já existente, num geral mangá ou light novel. Considerando todos os gastos envolvidos, é sempre mais interessante apostar em uma história que já faz sucesso e tem uma boa fanbase.
Mas como vimos, um mangaká não acorda um dia e diz “poxa, acho que vou fazer um anime.” Claro que existem malucos talentosos com bastante tempo nas mãos ou de autores que penhoram seus bens e gastam as economias de uma vida para ajudar a bancar um OVA, mas essas são as raríssimas exceções.
É por isso que não adianta nada cobrar uma nova temporada de Junjou Romantica da Shungiku Nakamura ou pedir pra Ayano Yamane fazer um anime de Crimson Spell. Eu acredito que elas até gostariam bastante que isso acontecesse, só que não depende apenas delas.
Quando uma obra é adaptada para anime, o controle sobre ela deixa de ser apenas do criador e passa a ser da equipe designada pelo Comitê de Produção (roteiristas, diretores, etc). O criador, por lei, deveria ter o poder da palavra final em assuntos importantes relacionados ao anime, mas nem sempre as coisas acontecem bem assim.
Muitas vezes o mangaká está ocupado demais ou não tem a possibilidade de trabalhar em conjunto com a produção do anime, então suas editoras costumam representá-los. E quase sempre o criador não está lá para ver todos os mínimos detalhes. Essa intermediação pode gerar falhas na comunicação, equívocos ou até situações espinhosas como esta aqui.
Além disso, são muitos interesses em jogo e estes interesses podem conflitar, nem sempre todas as demandas podem ser atendidas, há limitações inerentes à mídia, etc. O mesmo acontece em relação aos tão odiados fillers! Quando existe uma agenda a cumprir, não se pode esperar sequer o mangá ter material o suficiente, pois o show tem que continuar.
Lembram de todas aquelas empresas que investiram dinheiro no projeto? Pois é. Depois que os contratos estão assinados, não é fácil parar tudo ou voltar atrás.
Suce$$o ou fraca$$o
O anime precisa ser um título que não apenas cubra todo o dinheiro investido, mas que ainda dê bastante lucro. Então, o sucesso ou fracasso de um anime não tem a ver com o quanto as pessoas “gostaram” e sim o quanto de dinheiro ele gerou.
O público alvo de um anime BL/Yaoi não consome tanto merchandising quanto o público infantil, por exemplo. Daí, nesses casos, o grosso dos lucros e do retorno do dinheiro investido vem da venda dos DVDs.
Geralmente os DVDs e Blu-rays de anime são muito caros para os poucos episódios que contém, muitas vezes de 1 a 4, custando de 40 a 90 dólares em média. Um show com boa performance vende pelo menos 4 a 5 mil cópias por DVD.
Temos como um exemplo de sucesso o anime Junjou Romantica, que até hoje é o maior fenômeno da história dos animes boy`s love. Apenas o primeiro episódio vendeu mais de 10 mil cópias em DVD, e o resto da série teve uma excelente performance ( 7 a 8 mil cópias por episódio), o que explica a produção de uma segunda temporada – coisa rara no mundo do BL!. Junjou Romantica foi o shoujo mais vendido de 2008.
Já se uma série de anime não vende bem, imaginem o tipo de prejuízo com os quais as empresas têm que arcar! Assim me parece natural que exista uma certa cautela em relação a gêneros menos populares. Não é, como pode parecer, só uma questão de “preconceito”, mas também há o receio de um fracasso que venha a doer no bolso.
Infelizmente, conhecer todas as falas de um anime e dizer que “ama muito tudo isso” não costuma ajudar no sucesso de uma obra. Claro que a divulgação e propaganda são bem vindas, mas a única forma de apoiar diretamente o seu título/autor favorito é comprando produtos originais. Quanto mais carteiras fujoshi/fudanshi se abrirem, maiores as chances de investimento no gênero, não só em termos de animes como em questões mais “localizadas” como no sonho de ver yaoi sendo publicado regularmente no Brasil.
Então é isso, espero que tenham gostado desta matéria. Assim que possível escreverei um pouco como é a parte técnica de uma animação, com os pitacos do animador que eu sequestrei. Até mais!
Fontes:
Anime News Network – link
Sunrise – link
Culture Japan – link
TV Tropes – link
Animax – link
Nossa, adorei o texto. s2
Eu fico imaginando como foi que tiveram coragem de apresentar um projeto para animas Boku no pico. HAUHUAHuhauHAUHAUH Muita cara de pau.
Poxa, é realmente triste o nosso quadro… o jeito é torcer para a popularidade do yaoi aumentar. ç.ç
E nossa, fiquei assustada, não sabia qque junjou tinha vendido tão bem. :O Motivos misteriosos… Mas que continue assim. :3
O Boku no Pico é um ero anime, então o público alvo é mais ou menos aquele de hentai. Acho que deve ter vendido bastante dvd, depois veio o 2, o 3, o Shounen maid, etc. XD Fico pensando se eles poderiam ser feitos nos dias de hoje. Se sim, tremenda sacanagem, já que os yaoi andam se auto-censurando.
Se não fosse Junjou, duvido que haveria Sekaiichi Hatsukoi hoje. Vamos ver se gera mais coisas pelo mesmo caminho… quero saber como será o Love Stage.
Amei o artigo! Tirou muitas dúvidas que eu tinha. Acho que uma coisa mais viável financeiramente seria um anime que misturasse gêneros, tipo um shonen com alguns personagens BL. Lembra que já falamos disso? Imagine se, em Cavaleiros do Zodíaco, tivesse um trama paralela do Shun com o Hyoga, por exemplo.
Mais ou menos por isso que anime fanservice costuma ser mais viável. A mim não satisfaz, mas dá pra levar. Por exemplo, esses Free da vida, Tiger & Bunny onde o diretor diz que se quiser pensar que os personagens são amantes tb pode, etc.
Adorei o post Tanko! :3 Esse tipo de texto é muito para os fãs de anime, e de yaoi em específico, pra entender porque nossos lamentos parecem nunca ser atendidos.
Tanko san, um texto muito exclarecedor, não só para o gênero yaoi mas para todos os fãs de animes. Eu tinha alguma idéa do funcionamento, mas não tão aprofundada. 🙂 Obrigada por exclarecer isso para nós. ^^/
Poisé, produção animada é um verdadeiro inferno, muitas séries que teriam tudo para dar certo empacam porque as empresas que financiam costumam sempre querer meter o bedelho. Não sei se isso é comum acontecer no Japão, mas pelo menos nos EUA é o principal motivo de bons desenhos serem cancelados, como Young Justice D: Só porque não vendeu bonequinho eles vão lá e cancelam, eu amava tanto YJ ;3;
O texto ficou ótimo, explicou muito bem os motivos de não termos um mercado tão extenso de BL quanto poderia, o que move o mundo é a grana afinal. Mas ainda acho que o fato deles não publicarem BL aqui é receio do bafafa que se poderia criar em cima, sendo que aqui se cria bafafa até com adaptação para quadrinhos de livros brasileiros, então né. Mas num país tão preconceituoso como o Brasil é perigoso ousar, só espero que isso não impeça as editoras de pelo menos tentarem D:
Matéria interessante, gostei muito. 🙂
Já tinha um pouco de noção sobre a dificuldade de se fazer animação. Como gosto de desenho animado e leio sobre isso, eu li uma entrevista com Carlos Saldanha, que fez animação Rio, nela ele explica como se faz uma animação americana, etc. Bom, se lá tem certa dificuldade em fazer animação infantil, com toda aquela tecnologia, imagine para um grupo específico. Claro, que não dá para comparar, maaas ligam-se os pontos. 🙂
O que eu sempre achei estranho, é que no Japão, que é a casa do yaoi, a disponibilidade de animação yaoi é tão escassa. Ou seja, manga yaoi vende bem, por que um anime não venderia?
Aliás, alguém tem dados do nova animação de Ai no kusabi? Se vendeu bem, entre outros coisas?
Aparentemente entrou água na animação de Ai no Kusabi, não consigo acessar mais o site e não se fala mais nisso há meses. Ia até citar, mas não achei nenhum pronunciamento oficial~!!
Post sensacional, Tanko!
Tão bom que até mesmo os "OTACOS" de outros gêneros deveriam ler.
Esse lance de querer colocar a culpa de um anime ruim no autor de um mangá é a parada mais infantil do mundo.
Infelizmente, o BL é um nicho bem menor do que a gente gostaria que fosse, e justamente por isso, temos que nos esforçar para dar dinheiro a eles e podermos ter uma surpresinha de vez em quando!
Continuo com a velha opinião de que o CÂNCER desse mercado são @s fãs SAFAD@S, que só consomem pirataria e ainda por cima, reclamam.
Vou até compartilhar!
My recent post Funerais de verdade para personagens de mangás
Obrigada pelo comentário, Rebeka! Eu concordo plenamente e até roubei a expressão \”fãs safad@s\”. Posso estar errada, mas acho que é por muito pouco mesmo que nosso mercado não vai pra frente (todos os fãs colaborarem um pouco, com 15 pratas quando um yaoi sair).
Texto muito oportuno. Muita gente acredita que anime nasce igual os tomates, transformado em catchup e direto nas gôndolas do supermercado, e não é bem por aí, nem no caso dos tomates e muito menos dos animes. Custa caro fazer, consome muito trabalho e quando aparece já aparece com os cobradores batendo na porta, endividado. A sobrevivência ou continuidade de um título depende basicamente dele se pagar e gerar algum lucrinho em cima dos gastos pesados feitos para ele existir ou não.
Mas aí, justamente é que a gente vê o quão falidas e contrárias aos tempos atuais (e ao bom senso) estão as modalidades de exploração comercial de animes hoje em dia. Televisão e mesmo DVD/Blue-Ray não são mais algo que o público se interesse: são distribuições demoradas, burocráticas, caras para quem distribui e que no geral tem um custo-benefício muito ruim para o público em geral. Isso é uma verdade não apenas para obras de nicho (como é o caso do yaoi), mas igualmente para animes de interesse mais geral.
Seria interessante que quem está lá na ponta geradora da cadeia produtiva abrisse o olho e se focasse mais em modelos que tem oferecido experiências melhores e de custo mais acessível para o público, como é o caso de distribuição digital priorizada sobre a distribuição televisiva ou venda de mídia física. Hoje em dia o público não quer mais esperar 400 anos para sair uma licença de anime para passar na TV do seu paiś, mais 400 anos até sair a localização (dublagem ou mesmo legendas), mais 400 anos para sair um DVD de 4 episódios custando os olhos da cara e um rim. O público quer ver episódios de seus animes—yaoi incluído aí—logo depois que saem, e com um custo que não vá lhe destruir a vida num fim de mês. O que nos leva para a distribuição online como um modelo bem melhor, ainda mais se falando em animes de nicho ou com classificação controlada, mas que vale sim para todos.
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Já está acontecendo: num mesmo título de anime (não vou citar qual, para evitar choradeiras internet afora da parte de "facções rivais" de fãs) a série que se apoiou na distribuição via Crunchyroll (streaming online) para só depois se focar na distribuição mundial para TVs e produção de DVDs conseguiu lucros, renovação de temporada, etc, malgrado a reação inicial do público (que foi de mista para negativa no começo). Outra série desse mesmo título de anime, apesar dos elogios que recebeu de crítica e público foi cancelada. Motivos: um imbróglio legal com o estúdio realizador (o que daria para resolver até fácil em havendo boa vontade das partes), mas, acima de tudo a insistência em apoiar o lucro futuro em cima de presumíveis licenças para distribuição em TVs europeias. Com a Europa em crise, essas licenças ou demoraram demais ou nunca vieram, o que deu tempo para que os episódios vazassem na internet antes, e o público os assistisse—ilegalmente, sim, e acima de tudo, de graça: e aí não havia mais sequer o que licenciar para tentar conter prejuízos. Em suma, essa série literalmente perdeu o bonde do dinheiro, ignorando que o mundo mudou, que o jeito do público assistir vídeo mudou e que, sim, hoje em dia dinheiro não dá em árvore (no quintal de ninguém).
Não adianta pedir atitude ética do público se as opções contrárias a elas mostrarem vantagens demais: no público um ou dois vai ser santo e ajudar autores e estúdios, o resto vai continuar vivendo no fácil e usando o dinheiro que ia gastar em quatro episódios de anime—o que aqui no Brasil já vi sendo vendido a R$ 100—como um extra para pagar o aluguel, que é muito mais urgente no seu dia-a-dia. Pedir para que o público não baixe o que está sendo distribuído a custo baixo (ou nenhum) na internet por meras razões éticas é o mesmo que deixar um bolo de chocolate no meio da rua com uma placa "não coma porque é pecado": o público vai cedo—ou ainda mais cedo—ignorar esse negócio de "pecado" e se servir do jeito que bem entender. Ou os estúdios passam a encarar distribuição via download ilegal como CONCORRÊNCIA e se armam para lhe fazer frente, dando vantagens e motivos para o público procurar o material legalizado ao invés do "baixei por aí", ou a vaca vai sim para o brejo—e chorar e apontar o consumidor como "culpado" vai ser uma atitude tão infeliz e inútil quanto as do Metallica processando o Napster.
Download ilegal é sim um golpe baixo no mercado de animes. Mas o caso é que relações de mercado não são feitas por relações de ética e cavalheirismo, e sim por golpes baixos, na grossa maioria dos casos. E, sim, não adianta viver de passado: TV e DVD não contentam mais, tem que se pensar coisas novas. E o online parece ser o melhor caminho por enquanto.
My recent post Querida Gameloft (ou melhor…CARA Gameloft…Muito, muito CARA…)
Concordo com praticamente tudo o que você disse, mas como você mesma citou, existem formas menos salgadas de ajudar uma série. Merchandisings, mangás, crunchyroll, you name it.
Embora eu não goste muito de disco, streaming por exemplo já não me atende com essa internet ruim, e acho que é a realidade de muita gente no país. Por isso tive que parar de assinar o Crunchyroll, que cá entre nós é bem legalzinho e custa beeem menos que cinema.
Por outro lado teve um anime desses que vc citou que foram pro brejo que vendeu 2 boxes no Brasil, cada um com uma temporada inteira (vi de R$15 a R$ 40 cada)! Mas eu DUVIDO muito que tenha vendido bem, mesmo na super promoção eu via o tal box enrolando nas lojas online por meses e meses.
O mesmo aconteceu com a tentativa de publicação de yaoi da NewPOP. Eles erraram em muita coisa? Sim? A venda presumidamente ruim foi culpa dessas escolhas? Em parte sim. Mas a outra parte precisa ser lembrada do tanto que pediu, que chorou por yaoi impresso e que não comprou porque não tinha como pegar o mangá na banca da esquina, por exemplo. E a edição tava bonitinha, não foi como o Episódio G que passou a ser publicado em papel higiênico de bar de beira de estrada. =B
O fã tem duas coisas que pode fazer em relação a uma situação dessas ( o produto que ela quer vir pro Brasil com qualidade ok e um custo-benefício razoável ) : tentar apoiar o que está disponível e ver se vai pra frente, ou não apoiar nada, se pensa que não vale a pena. Infelizmente as duas coisas não costumam acontecer ao mesmo tempo, isto é, ninguém comprar e a editora continuar publicando coisas do gênero. Afinal, mais prático que eles culpem o gênero e migrem para outro do que repensarem as próprias estratégias! Em suma, mais fácil a gente ficar sem as coisas mesmo e pronto.
A Prime Time (Sex pistols, Maiden Rose, Ikoku Irokoi Romantan) já entrou no mundo da adaptação de Otome game… pelo visto tem vendido mais!
Pior que nem demonizo a distribuição alternativa (gratuita), mais conhecida como pirataria. Só acho triste mesmo a safadeza, rsrs.
Bem observado. Mas, analisemos: QUANDO foram lançados esses dois boxes (ótimos, por sinal) do "anime que foi para o brejo"?
DEPOIS de MESES dele vazado na internet. Onde quem queria ver viu, quem queria baixar, baixou, quem queria queimar um DVD em casa, queimou. E aí não tem jeito: ele sai daquela malha de mercado das necessidades, que é o que movimenta dinheiro de verdade. Não era mais o "preciso ter esse DVD para ter a série que passou só na TV e de outro modo eu não teria". Virou um "ah, melhor comprar para…para ajudar o autor…mas assim que der tempo compro. Prometo que compro, adorei. Mas amanhã, hoje não dá. Os episódios eu já vi nos arquivos que baixei. E ver de novo…vejo nos meus arquivos, por enquanto…Mas um dia eu compro, prometo. Não hoje, não amanhã…"
Funciona assim com a maior parte das pessoas, até as ditas mais honestas e decentes fãs de anime. Vira promessa, vira o "um dia". Simplesmente deixa de ser uma NECESSIDADE para o público, vira mais um "artigo de coleção". O que vai interessar aos mais fanáticos pelo anime ou pelo gênero, mas vai estar longe de movimentar a mesma grana que o consumo pelo público geral que quer acompanhar e talvez assistir de novo.
É isso que implode a rentabilidade. Não adianta mesmo lançar box do que quer que seja, por mais bem feito que fique se o ineditismo (ou até valor de reexibição) do conteúdo oficial se perdeu por causa de atraso. Foi onde as emissoras da Europa fugiram feito mosquitos de óleo de citronela desse anime, mesmo sendo uma das franquias mais queridas do público europeu (sobretudo mediterrâneo): caso é que os fãs europeus já tinham visto tudo por meios "paralelos", não tinha como garantir audiência boa na TV e menos ainda em boxes de mídia física.
E é isso que a indústria tem que se preparar para quebrar. Ainda dá um bocado de angústia ver estúdio afundando por insistir na licença televisiva num mundo onde cada vez menos gente vê TV. Ou, pior ainda, no caso do anime de nicho—e aí temos o yaoi—esperando vender box de DVD, com todos os "contras" que existiriam para se lançar algo assim no mercado de praticamente qualquer país, quando o mundo da mídia de nicho online se revela extremamente rentável, sólido e crescente (um exemplo? Os ene sites de conteúdo LGBT de interesse geral ou eróticos mesmo: especialmente os eróticos, aos quais a internet deu novo fôlego após a onda dos VHS e DVD ter perdido a força. Enquanto a maior parte das distros de DVD fechou as portas, as produtoras de conteúdo migraram em peso para a internet e vivem até melhor do que antes).
E lembrando: isso não seria o fim da distribuição em DVD, mas a reavaliação dela dentre as prioridades em se lançar um anime. Não esperar que dela venha uma grossa fatia do lucro, porque não vem mesmo. Para os chamados OVAs, significa literalmente mudar 100% do foco da distribuição: o que era a base, o "sustento" da série passa a ser seu segundo apoio, e busca-se o dinheiro em outro lugar. No caso de mangá, convém pensar parecido: a distribuição é difícil, o gênero não ajuda por si só e o público acaba não correndo atrás se já leu numa scanslation. Pode até falar que corre, pode até dizer que vai apoiar…mas na hora H, se já tiver tido acesso ao material antes, vai simplesmente "dar a egípcia". Isso é ser folgado, sim, é sim acabar sendo o pior inimigo do que tanto diz que apóia, é na prática glorificar a "lei de Gerson"…
E…é ser humano. Um bicho tão movido por instintos básicos quanto os demais. Dentre eles, o instinto de procurar sempre a saída mais confortável para si. Fato, um anime ou mangá licenciado, mas que vazou há séculos nas redes vai ter alguns poucos compradores que são fãs die-hard do título ou do gênero, uns poucos compradores—ainda em menor número—que vão se doer para comprar porque "a consciência doeu" ou "assim ajudo o autor", desses menos da metade vai permanecer fiel a longo prazo…E a maioria que ver o título na banca (se ver, já que sabemos os problemas de distribuição) vai dizer "Eu já li isso, não PRECISO comprar". Resultado: fiasco de vendas garantido, infelizmente.
Necessidades, sempre: é isso que move mercados. E é para contemplá-las que a indústria precisa achar novos caminhos. Esperar ética dos leitores e espectadores é—infelizmente, mas realisticamente—esperar um mundo ideal que não existe. Ou, pode existir forçando-se a barra de modo brutal e restritivo (como acontece na Alemanha: baixe um torrent do que quer que seja e a polícia bate na sua porta), o que acho, não agradaria ninguém. Então, existe saída? Sim, se mudar o jeito de se distribuir e de se esperar o lucro. Online é um caminho. Facilitar licenciamento de merchandising (que também tem perdas gigantescas nos mercados "informais", muitas vezes feitos por fãs sem más intenções, vide artesanato baseado em anime), também seria um ótimo caminho. Distribuição e assinaturas de mídia via grandes cadeias da internet como Amazon, B&N e outras, também. Investir em games para mobile (dos otome games aos yaoi games mesmo—e essas coisas são verdadeiras cash cows, dão lucros absurdos e viram máquinas de comer dinheiro do público, seja isso bom ou mau), também. E por aí vai.
Resta saber se os criadores de mídia vão pensar nisso ou vão seguir teimando no binômio TV+DVD/Blu-ray (ou no caso de mangá, papel e distribuição em banca). Não tem mais como seguir para esse lado e esperar sustento: perde-se a velocidade de lançar, o que hoje em dia é crucial. E perdendo a velocidade, perde-se o ineditsmo, para o bicho-homem (ainda muito bicho, hoje e sempre), perde-se a necessidade. Sem necessidade, sem vendas. É urgente para a indústria voltar a achar o caminho da necessidade na distribuição, por os pés na realidade, ou ela não vai sobreviver (a parte boa: há quem já esteja pondo: vide o "anime massacrado pelas críticas, mas que não foi para o brejo". A prova de que uma dose de pé no chão e senso prático fazem maravilhas no mundo dos negócios).
ainda tentando entender pq tanta menina ve yaoi
Sou gay portanto é a lógica que os animes YAOI seriam direcionados para o nosso público, mas a maioria dos gays nem sabe o que é um anime.
portanto continuem a assistir, quem sabe eles lançam mais alguma coisa…
Oi, Kokoro chan, por incrível que pareça, o yaoi é feito para o público feminino mesmo. Tem horas que me pergunto COMO essa moda pegou (existem várias teorias), claro. O yaoi/BL surgiu em revistas femininas nos anos 70. É certo que hoje existem muitas revistas só BL, mas ainda são voltadas para as mulheres. Tanto que as revistas mais populares têm sites rosa, floridos, a diagramação e o apelo das histórias tem mais afinidade com estilos para mulheres.
Os gays japoneses têm um estilo próprio, o Bara. Por serem escritos por homens (de forma geral) e com esse direcionamento para o público masculino, os bara são mais bem aceitos pelos gays japoneses.
Nada impede um homem de gostar de yaoi ou uma mulher de gostar de bara, mas o mercado é assim.