Quando eu tinha sete anos, fingia ser a Serena que estampava minha mochila vermelha que levava para a escola. Sim, a Serena que cito é aquela garota esbelta e de longas “maria-chiquinhas” loiras de “Sailor Moon”. Na época não fazia ideia do que era “cosplay”, mas já vestia minha saia de pregas e fazia de conta que um pedaço de madeira era meu báculo mágico. Aos quatorze descobri o que era o hobby e tudo começou a fazer sentido. Hoje, com quase vinte e seis, sou praticante e amante do cosplay. Acho mágico!
E foi tudo por causa de “Ficção Científica”
Ao contrário do que eu pensava e muitos outros pensam, cosplay não teve sua origem propriamente dita no Japão. Foi nos EUA no final dos anos 30 que o hobby deu as caras. Sim! Tudo começou com um casal de amigos simpáticos que resolveu inovar ao visitar a primeira edição da “World Science Fiction Convention”, conhecida como Worldcon, em Nova Iorque. Eram eles Forrest J. Ackerman (uma figura importante na cena de ficção científica) e Myrtle R. Douglas. Motivados, os fãs do gênero começaram a frequentar as convenções também fantasiados.
Até então, o hobby era denominado simplesmente como costuming ou fan costuming. A maioria dessas fantasias eram originais, geralmente inspiradas em algum ícone de ficção científica. Para tornar a prática mais dinâmica e divertida, foram criados concursos onde os fãs podiam se apresentar/atuar usando suas fantasias.
Tudo mudou em meados dos anos 80 quando um camarada japonês pousou em terras americanas. O japonês era Nobuyuki Takahashi (produtor executivo, editor, animador, produtor. Colaborou com títulos famosos como “The Grudge” e “Lupin III”). Encantado com o que viu nos EUA, Takahashi voltou ao Japão e publicou, por diversas vezes, sobre o que havia presenciado em terras gringas. Apresentou o fan costuming à seus conterrâneos como cosplay, uma junção de costume (fantasia, fantasiar-se) com roleplay /play (interpretação). O boom foi grande e o hobby, então, tornou-se febre por lá.
É interessante ressaltar que costuming e cosplay, para os americanos, são termos usados de forma diferente ainda hoje. Para nós brasileiros, vestir-se como um personagem é estar de cosplay. Quando vemos uma linda moça encarnando a Poison Ivy ou um cara boa pinta vestido de Thor, exclamamos: Cosplay! Para os americanos isso é costuming. Eles denominam como cosplay apenas as fantasias que originam-se de animes, mangás ou mídias orientais.
No Brasil, o hobby começou a ganhar espaço em meados dos anos 90, junto com a primeira convenção de animes do país, a “Mangacon“. Desde então, tornou-se famoso e querido entre os praticantes, ganhando mais e mais adeptos, anos após ano.
Do “Do it Yourself” para o Mundo Capitalista
Originalmente, cosplay era algo onde a pessoa, então cosplayer, dedicava-se fazendo desde a roupa até os acessórios, passo a passo. O importante no cosplay era participar de todas as etapas e, se necessário, pedir ajuda pra mãe, pai, amigo, irmão, tia, vizinho, cachorro, avó, ou qualquer outra pessoa diretamente ligada à ele. Não estou dizendo que hoje em dia não é assim. Existem cosplayers excepcionais que constroem todo o “figurino” sozinhos. Um exemplo que admiro muito é a Arulithia. O trabalho que ela faz com perucas e acessórios é incrível!
Com o passar dos anos e com o crescimento inevitável do capitalismo, isso mudou bastante. Hoje em dia é possível encontrar uma infinidade de lojas especializadas em artigos para cosplays, que vão de acessórios à roupas prontas. Também existem ateliês que confeccionam exclusivamente roupas sob medida e outros que confeccionam não o traje, mas armas (espadas, revólveres, báculos, etc). Os chineses também estão ai, exportando à preço de banana perucas e goodies em geral, fazendo a alegria dos cosplayers… E facilitando muitoooo a vida dos mesmos.
Se isso é bom ou se é ruim eu não posso dizer. Estamos no século XXI e o consumismo (e a preguiça) tende a crescer. Além disso,existem casos em que a pessoa simplesmente não tem talento algum para trabalhos manuais (artesanato, costura, etc) e esses serviços acabam sendo muito bem vindos. Afinal, todo mundo merece ter seu cosplay e ser feliz.
Cosplay, Diversão ou Coisa Séria?
Primeiramente, cosplay é amor. Não se faz cosplay por fazer. Se faz por gostar, por amar! Não se escolhe um personagem aleatório para trazer à vida por algumas horas. Se escolhe aquele que você gosta, se identifica e que tem afinidade. Confesso saber que estou sendo ingenua demais dizendo isso. Embora esse seja meu pensamento e talvez também seja o do cosplayer que lê essa matéria, hoje em dia o comparo com utopia . Nossa, que exagero Marina! Não é. Conheço pessoas que se caracterizaram de algum personagem sem nem ao menos assistir a série à qual o mesmo “atuava“. Bom… O importante é se divertir, pelo menos esse é o fundamento da coisa.
Em suas origens e ainda hoje, cosplay é diversão. É um hobby peculiar e prazeroso para quem o pratica. Fãs se dobram, desdobram e se esforçam ao máximo para ficarem o mais parecidos e fiéis possíveis de seus personagens favoritos, sejam eles de animes, filmes, comics ou do que mais a imaginação e o gosto mandar. Todo esse esforço torna o hobby coisa séria. “Opa, olha você aí se contradizendo”. Aposto que pensou isso. Mas provo que não estou. Cosplay é diversão para alguns e é um misto de diversão e coisa séria para outros. Hoje em dia muita gente leva cosplay à sério, não apenas na exigência de “perfeição“, mas também como trabalho. Mas, como assim? Tá locona? Não, não. Existem cosplayers mundialmente famosos, muito talentosos e dignos de admiração. A maioria deles viaja pelo mundo (patrocinados) apenas para mostrar seu trabalho como cosplayer. Seria um sonho trabalhar praticando seu hobby preferido, não?
Além disso, hoje existem várias competições onde o melhor cosplayer leva prêmios bastante interessantes. O que é avaliado? Primeiramente: o figurino. Ele precisa estar lindo, perfeito e fiel ao do personagem escolhido. Segundo: a interpretação (ou vice-versa. Num desfile por exemplo, o que é avaliado é a fidelidade da roupa). Entendeu agora porque muitos levam a prática à sério e o porquê de tantos se focarem na “perfeição“? Digamos que é algo como“unir o útil ao agradável”. O importante mesmo é sentir-se satisfeito e feliz no final.
E o Preconceito?
Julho. Eu e uma amiga (e mais alguns amigos) chegávamos à um evento e ambas estávamos usando cosplay. Era a primeira vez que iríamos “usar” cosplay juntas. Escolhemos duas amigas: ela era a Tohru e eu a Hana-chan, de “Fruits Basket”. Estávamos felizes e radiantes até ouvirmos algo que ecoou de um carro que passava pela avenida: “BANDO DE RETARDADOS“. O grito foi alto e foi possível ouvir as gargalhadas que o seguiu, vindas do mesmo carro.
O preconceito existe. O ser humano é um animal que julga tudo como ruim antes de conhecer o que julga. Muitas pessoas são influenciadas pelos maus exemplos que uma MINORIA dá (sempre existirá uma minoria que prejudica uma maioria, seja entre cosplayers ou seja entre qualquer outro grupo). Por muitos, o hobby ainda é visto como uma falta do que fazer. Acredito que muita gente já ouviu coisas como “pare de fazer isso, é gastar dinheiro à toa”, “você já tem xx anos, não está grandinho demais pra isso não?” (eu já ouvi dessas), “nossa, que idiota” ou “bando de retardados”. Quanto à isso, não existe muito o que fazer. É brigar ou responder com o silêncio, afinal ,o silêncio é a melhor resposta para ignorantes hipócritas. O importante é não se deixar levar por ofensas baratas e parar de fazer o que gosta devido a maldade alheia.
Hoje em dia o cosplay até tem sido visto com bons olhos. Volta e meia a mídia apresenta algo sobre o assunto, despertando, aos poucos, interesse ou admiração entre o público que desconhece essa arte. Mesmo assim, ainda falta um caminho razoavelmente longo até total reconhecimento e respeito.
Assédio
Não me aprofundarei no assunto, mas “respeito é bom e todo mundo gosta”. Geralmente as meninas sofrem mais assédio que os meninos. Acredito que o assédio delas para com eles é do tipo “ataque fangirl histérico” (quando o cosplay é muito bom) ou algo parecido. Muitos rapazes (não todos, já digo que não estou generalizando), não tem esse mesmo tipo de olhar inocente para cima das meninas. Já disse Yuu (amigo do Towa em “Warui Series” da Sakuraga Mei): ” todos os homens são bestas” . Ok, brincadeiras à parte, um cabra macho realmente não resiste a um rabo de saia. Basta um decote um pouquinho mais aberto e os “gostosa”, “delícia”, “tesão” ou sei mais lá o que são ouvidos.
É desagradável. É constrangedor.
É fato que a maioria das personagens femininas são desenhadas como modelos ideais. Variam de maids fofas à femme fatales de se fazer babar. Independente disso, penso que as garotas fazem seus cosplays porque gostam de tais personagens. Posso estar sendo ingenua novamente, mas aposto que a grande maioria não faz para simplesmente se expor.
Li que aconteceu de rapazes oportunistas pedirem para fotografar com as garotas e aproveitaram a proximidade para deixar a mão boba correr solta. Não há muito o que se fazer sobre isso… Apenas se auto-proteger, acredito.Afinal, sabemos que se você faz algo que te expõe, você está ciente das consequências. Mas sabemos também que independente do tamanho do decote, repito, “respeito é bom e todo mundo gosta.”
Por hoje fico por aqui. Aguardem mais matérias sobre cosplay!
PS: Cosplay também “dá” spoiler. Cuidado! Hahaha!
fontes:
http://www.costuming.org/history.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosplay
http://www.animenewsnetwork.com/encyclopedia/anime.php?id=6350
http://amazingstoriesmag.com/2013/03/amazing-news-thursday-march-28th-2013/
Imagem do header: REIKA
Blyme alem de suprir nossas necessidades Yaoiesticas ainda nos enche de cultura!!!
Adorei saber sobre esta incrivel profissão/hobby (como quiserem chamar) que está tão presente na vida dos jovens hoje (sejam eles afetados ou os que afetam) Agradeço o post!!!!
Esse cosplay do manga koi janai kedo me chamou atentção vou procurar para ler >:D
Fujoshi que nunca para kekekeke
Yo! -q
Adorei o texto, ele abordou as diferencinhas de nomes que os gringos, nós mesmo (alguns brazucas, tipo eu XD) chamam de cosplay e "fantasia", digamos assim. Ainda acho que é tudo questão de falar pra o quê está sendo discutido essa questão, mas enfim XD
Eu, que antes de me mudar para minha cdade/Estado atual, morava em São Paulo, e ia para AD e AF, e nem ia de cosplay, apenas colocava as conhecidas orelhinhas de gatinho já me chamavam de retardada (isso com 13 anos, meu deus!), imagino os adolescentes encorpatos, adultos que fazem cosplay, o quão grande e infinta é o preconceito sem nenhum conhecimento dessas pessoas. Ainda me lembro de um dia, estava na fila para entrar no AD e a fila simplesmente estava ENORME. Daí ela acabou saindo (mas ainda dentro da área envolta do evento) e ao lado tinha tipo uma estradona, que não sei mais onde fica. Enfim, passavam muitos carros por lá, e os mais variados tipos de insultos, risadinhas hipócritas eram ouvidos por mim. Claro, podia ser para mim, com orelhinhas de gatinho, e para os vários cosplayers que estavam na fila junto. Apesar disso, eu ainda via algumas pessoas passarem com o carro relativamente abaixo da velocidade que eles iam para poder olhar fascinados para os cosplayers, e acho que foi isso que não deu uma memória ruim sobre a fila meio gigante do evento -q
Respeito é bom e todo mundo gosta, é isso aí o Acho que por eu não ter um bom tipo físico para cosplay, não pretendo fazer um, porque eu não me divertiria sabendo que não estaria "magrinha nem kawaii" com ele, então eu apenas sonho em ter uma boa câmera fotográfica para que, quando um dia eu volte a frequentar eventos; apareçam mais cosplayers legais para eu poder ver. Cosplay diverte a pessoa que está o vestindo e ainda a pessoa que vai ver no evento, em fotos etc.
Beijks de uma pessoa que não é cosplayer, mas adora essa parte que existe no mundo Otaku/Gamer/Nerd da vida XD Kissus!
Faz cosplay sim u.u
Eu entendo isso tudo que você comentou, presencio isso frequentemente 🙁
E quando vocÊ comprar sua câmera, quero que me fotografe. EU AMO fotos. Haha xD
x Mah
Acho fascinante pessoas que se dedicam ao cosplay de maneira seria, apesar de ser uma otaku master nunca fiquei próxima sequer de um evento da minha cidade(infelizmente, e…por enquanto). Sobre você ter falado sobra as meras Nekomimi (orelhas de gato), saiba que em manaus é pior. Já vi muita gente chamar de retardado ou bastado pessoas que usavam aquelas orelhas de coelho de otaku. Se eu tivesse certas condições financeiras usaria e faria cosplay sem vergonhas, pois como você falou: "Respeito é bom e eu gosto!"
Enfim, temos que saber aceitar que vivemos num lugar que ser Nerd, Geek, Otaku, Gamer, Gostico, Roqueiro ou qualquer coisa fora dos padrões da sociedade é correr o risco do preconceito, mas no final, não estamos nem ai para essas pessoas sem juízo HEHE! Ótima materia, esperado a próxima com tantos informações novas!