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Blyme entrevista Dany&Dany

O primeiro “Blyme Entrevista” vem em grande estilo, trazendo duas convidadas muito especiais, as mangakas italianas Dany&Dany!

Dany&Dany gentilmente nos cederam esta entrevista exclusiva, colocando seus pontos de vista sobre o yaoi e a experiência do mangá Global.

Conheça um pouco mais do trabalho gótico e sensual desta afinada dupla de artistas.

“Dany&Dany (Daniela Orrù e Daniela Serri) vivem e trabalham em Cagliari, capital da Sardenha, Itália. Seus nomes são famosos no panorama do Mangá Global como criadoras (ambas desenham e escrevem seus próprios quadrinhos).

Elas estrearam na Itália com a graphic novel(*) “La luna nel pozzo”, publicada pela  Echo Communication em 2002. Um ano depois a mesma editora lançou seu segundo trabalho, “Eikon”.
Em 2003, elas produziram “Lemnisca” de forma independente e finalmente em 2006, criaram a  IdeaComics juntamente com  Massimo Dall’Oglio, e publicaram o episódio piloto de “Dàimones”.

Desde 2007 elas têm trabalhado para a Yaoi Press, que publicou nos Estados Unidos  “La luna nel pozzo” e “Eikon” (com os títulos adaptados para  “Wishing for the moon” e “Idol”) e então foram contratadas para realizar duas graphic novels inéditas “The Lily and the Rose” (agosto de 2007) e “Anima” (dezembro de 2008).  Os mesmos títulos foram publicados na Alemanha pela The Wild Side. A Yaoi Press também publlicou o primeiro artbook de  Dany&Dany, “Dark Dreams” em dezembro de 2007

Em maio de 2008, a Tokyopop incluiu o episódio piloto de “Dàimones” no projeto Pilot Program e o publicou em seu website.

Elas trabalham como instrutoras em duas escolas de quadrinho em Cagliari: Gruppo Misto Comic Lab e Fare Fumetto.

Dany&Dany foram as primeiras mangakas ocidentais a serem convidadas de honra em uma convenção de mangás nos Estados Unidos (Anime Central 2008).”

Antes de mais nada, obrigada por encontrar tempo para responder nossas questões.

Obrigada. O prazer é nosso!

Como vocês começaram a escrever e desenhar graphic novels yaoi?

Nós começamos a fazer ilustrações Boy’s Love por diversão após ler as “Crônicas Vampirescas” de Anne Rice. Nós amávamos o par “Louis/Lestat”. Naquela época nós não sabíamos que shonen-ai e yaoi sequer existiam. Então uma editora italiana, a Echo Communication, nos contratou para criar duas graphic novels yaoi e aceitamos com entusiasmo. Foi quando descobrimos o gênero Boy’s Love e logo nos apaixonamos por ele.

Por que o estilo mangá e por que yaoi?

Temos criado nossos próprios mangás desde que éramos bem jovens, quando ainda não tínhamos nos conhecido. Nós seguimos um caminho parecido, mas separadamente. Sabe, na Itália, nosso país, a “invasão” do anime começou bem cedo (em 1978) e tem sido realmente massiva se comparada a outros países do ocidente. A conseqüência foi que muitas gerações italianas cresceram tendo mais familiaridade com anime e mangá do que com outros tipos de quadrinhos, comics e cartoons. Ambas fazemos parte destas gerações. Na verdade nós aprendemos a desenhar vendo anime na TV, para começar.

Quanto ao yaoi, as editoras nos contrataram para criar as graphic novels deste gênero, primeiro na Itália, então na Alemanha e nos Estados Unidos.

Vocês têm autores de yaoi favoritos ou influentes?

Nós gostamos muito de Kazusa Takashima e Youka Nitta. Mas não podemos dizer que tiveram real influência em nossa arte.

Suas primeiras graphic novels “Wishing for the Moon” e “I.D.O.L” foram publicadas na Itália mas seguiam a orientação de leitura japonesa. Foi uma opção editorial? O que vocês pensam sobre a orientação de leitura para quadrinhos ocidentais?

Sim, foi uma opção editorial. Pessoalmente achamos que quadrinhos ocidentais precisam ter leitura ocidental, enquanto quadrinhos japoneses devem sempre ser publicados da maneira que foram concebidos, em sua orientação de leitura própria. Não ficaríamos felizes se alguém decidisse espelhar as nossas páginas.

Todas as suas histórias têm ambientação no ocidente. Vocês acreditam que é importante para os artistas “Globais” buscarem uma identidade mais pessoal (ou até nacional) através da narrativa do mangá?

Sim, nós achamos. O Mercado de mangá é grande no Japão e no resto do mundo, mas um mangaka japonês, por mais habilidoso que seja, não tem como representar a vida ocidental, a cultura, psicologia e história tão bem quanto o autor ocidental. Da mesma forma que um autor ocidental não representaria a cultura, as pessoas e a vida japonesa melhor do que um autor japonês. Geralmente o mangá Global é considerado um mero produto de emulação. E algumas vezes, infelizmente é verdade. É claro que todos são livres para escrever as histórias que mais os inspirem, mas se queremos dar um sentido para o mercado global de manga nós precisamos transformar nossa identidade cultural num ponto forte e criar algo diferente do mangá  japonês.

Aliás,“Wishing for the moon” é uma história bastante passional. Vocês acham que ela reflete um ponto de vista “italiano”?

Acreditamos que, de certo modo, nossa sensibilidade italiana está em todas as nossas histórias (em adição, “Wishing for the moon” se passa na Itália).  Em geral todas as nossas graphic novels são muito passionais, com sentimentos fortes e conseqüências, amor e morte. Nós gostamos de criar este tipo de história, mas não sabemos se é por sermos italianas. ^^;

Por exemplo, você pode achar aspectos italianos em “The Lily and The Rose” também, apesar da locação francesa: o tema religioso e a mente fechada para com a homossexualidade é um problema sério em nosso país, algo que coloca a Itália em uma das últimas posições na Europa.

Também em “Anima”, há um pano de fundo político que é bem próximo do italiano atual: um governo corrupto conectado de certa forma com a Máfia e uma imprensa censurada.

Nas suas graphic novels vocês não fixam os papéis para os personagens como seme e uke (ativo e passivo), mas os colocam em uma relação “equalitária”. Como o público reage a esta aproximação? O que vocês pensam sobre a visão heteronormativa no yaoi, onde um personagem aparece como a “mulher” do casal?

Até onde sabemos, as respostas sobre isto são positivas. Nenhum de nossos leitores reclamou sobre os relacionamentos equalitários em nossas graphic novels até agora.

Pensamos que a visão heteronormativa no yaoi é tão boa quanto outros tipos de visão. Afinal, a sexualidade humana é tão variada e complexa que não podemos ter regras fixas.

Apesar da distância histórica e o modo humano com o qual vocês retrataram os personagens religiosos em “The Lily and The Rose”, estes temas podem ser considerados tabu em muitos países. Vocês receberam reações adversas por escrever uma história yaoi onde o protagonista é um padre?

Por sorte, não tivemos. Apesar de que tivemos receio de que pudesse acontecer. O que mostra como o yaoi é um nicho e normalmente os leitores têm a mente aberta.

“Anima”  explora uma das questões da ficção científica mais fascinantes: “o que faz de um ser, humano?” Eu adorei sua visão sobre o tema. Quais suas influências e referência para criar a história e universo de “Anima”?

Obrigada! ^_^

Como dissemos acima, o pano de fundo é fortemente influenciado pela situação política italiana. Mas há muitos outros elementos, como o nosso amor pelo balé clássico. É claro, para a base de ficção científica não pudemos deixar de nos voltar para um marco como “Blade Runner”.

Em  “I.D.O.L.” pudemos notar uma crítica ácida ao dito “mundo da arte”, que me pareceu muito realista. Vocês tiveram uma educação artística acadêmica?

Na verdade não tivemos. Somos artistas autodidatas. Mas tivemos estudos humanísticos como História da Arte também: amamos a Arte e sempre ficamos de olho no que está acontecendo hoje em dia. Somos muito sensíveis a isto e colocamos nossas impressões em “IDOL”.

Sua nova  graphic novel “Daimones” segue o seu estilo gótico dark e é povoada de homens bonitos, mas não é yaoi. Podem nos dizer as razões para a mudança de direção? Vocês têm planos para voltar a desenhar yaoi no futuro?

Podemos dizer que vampiros sempre foram um dos nossos temas favoritos, mesmo antes do yaoi. Então é mais um retorno ao nosso primeiro amor do que uma mudança de rumo. ^_^

É claro que isso não significa que não vamos criar uma história yaoi novamente ou colocar um pouco de yaoi na nossa história de vampiros. ^_~

Que conselhos vocês poderiam dar aos aspirantes a desenhistas?

Bom, muitos iniciantes acham que criar quadrinhos (mangá no nosso caso) é como uma brincadeira e não levam a coisa à sério. Então se os aspirantes a criadores e artistas não gostam da idéia de trabalhar duro e de não ter muita satisfação em troca, especialmente no começo, então este é o fim antes mesmo de começar. A coisa mais importante é ser muito determinado e não desistir de seu sonho.

Obrigada e um grande abraço a todos os seguidores do Blyme. ^__^

Link:

Site oficial Dany&Dany



Sobre Tanko

Tanko é ilustradora e arte-finalista, viciada em podcast e café. Fujoshi, otaku, nerd e esquisitona. Vive nas montanhas chuvosas imperiais. Ver todos os tópicos de Tanko

11 Comentários a Blyme entrevista Dany&Dany

  1. Xeretinha

    Ah!!! adorei essa entrevista, obrigada, valeu mesmo :D.

    Eu ia ficar louca de ler um yaoi com temática vampiro, logo com os bishounens de Dany & Dany, meu deus!!!

    Gostaria que houvesse uma maneira de comprar os exemplares delas sem ter que usar o CCI. Não sei se elas tem conhecimento de fãs que gostariam de comprar as suas obras, como eu, mas que há entraves chatos.

    Consegui ler Anima, mas minhas estórias prediletas continuam sendo: I.D.O.L e The Lily and The Rose.

    • Foi muito legal fazer esta entrevista, Dany&Dany são uma simpatia. ^^

      Eu gosto bastante de todos os títulos, mas sinto que "I.D.O.L." e "Whishing for the moon" tenham sido muito mal impressos pela YaoiPress. Não sei o que rolou, se tiveram que ampliar o original…

      Gosto do clima de ficção científica steampunk de Anima, que me surpreendeu porque esperava uma lógica de andróides mais "Asimov".

      Eu diria que "I.D.O.L." e "The Lily and the rose" são as mais sexies sem dúvida.

  2. Estela

    Nossa, gostei mesmo dessa entrevista, acho muito interessante ouvir a voz do artista. Fora que ainda deu prá sentir como é a questão de anime e mangá (não só BL) na Itália *talvez por isso Sailor Moon foi prá lá primeiro*. Muito bom mesmo. Entrevistas assim enriquecem bastante o site e seus leitores, porque permite outras visões das coisas e nos impede de correr atrás do próprio rabo. Obrigada e parabéns.

    • Obrigada, Estela, no que depender de nós vai ser a primeira de muitas. ^^

      Eu acho importante conhecer a experiência de artistas globais, pois eles vivem uma realidade mais próxima da nossa, culturas mais parecidas, mesma base religiosa, problemas um pouco mais similares com os nossos do que os japoneses.

      Bom, os italianos estão há bem mais tempo convivendo com o mangá, mas acho que a gente também chega lá. ^^

  3. Aline Klaki

    Nossa, adorei a entrevista.

    Antes de tudo, repito que adoraria ler alguma história delas… O traço é lindo. E eu fico louca por um traço bonito…

    Pelo visto, os personagens delas são total flex… Adoro. xD

    Concordo com as coisas que elas disseram, principalmente sobre o ocidente. Tbm acho que a leitura ocidental é ideal para quadrinhos ocidentais, e um ambiente japonês numa obra feita do lado de cá, na minha opinião, sempre vai ser mto falsa… =S

    Enfim… O Blyme tá chique! Entrevistando mangakas!

    Adorei o post, parabéns pela entrevista.

    o7

    • Rsrs, se você diz, sim, estamos com convidados chiques ^.^ esperamos conseguir outras entrevistas com gente interessante do mundo do yaoi! =D

      Sim, na maior parte das vezes é total-flex, o que me surpreendeu bastante.^^

      Acho legal ter a opinião de autores ocidentais, pois a experiência pode ser válida para a nossa realidade. Quando comecei a escrever também fazia o contexto oriental mega-falso, acho que todo o mundo começa querendo emular e depois vai encontrando outros caminhos.

      Talvez o mercado também se comporte assim.

  4. Steh

    O Blyme tá chique! [2]

    Eu simplesmente AMEI a entrevista, ainda mais admirando o trabalho de Dany&Dany! É muito legal saber o que as autoras tem a dizer e conhecer mais sobre mangakas ocidentais. Realmente, foi um ótimo começo do Blyme Entrevista <3

    Concordo plenamente com a resposta sobre a ordem de leitura dos mangás ocidentais e orientais. Elas responderam tudo com tanta clareza, o que tornou a entrevista muito gostosa de ler! E as perguntas também foram ótimas.

    Eu li I.D.O.L e The Lily and the Rose, e amei os dois. O traço também é bastante bonito (: Foram ótimas (e sexies (?)) leituras.

    E elas tbm gostam de Louis/Lestat!!! Quero muito ler um yaoi sobre vampiros do estilo Anne Rice, e adoraria que fossem de autoria delas.

    Obrigada pela entrevista ó/

    • Valeu, Steh, que bom que gostou. A gente planejou essa entrevista com muito carinho. =D

      As respostas foram muito interessantes, a gente pode ver que as criações delas todas têm uma identidade bem particular. E assim como a gente aqui, estão pensando o mercado global.

      Elas gostam sim, no site tem até fotos de cosplay do Louis/Lestat. Aliás os pares de personagens dos mangás da Dany&Dany costumam lembrar fisicamente estes dois.

      Eu também gostaria de um yaoi de Anne Rice, mas até onde sei a autora não gosta e até "proibe" fanfictions sobre sua obra, então… é difícil. ^^;

  5. Cristal Samejima

    Muito bom! Muito bom mesmo!
    Adoro as historias de Dany&Dany e babei ao ler essa entrevista.
    Muito obrigada, Tanko!

    • Que bom que gostou, adorei fazer a entrevista, além de tudo elas são muito simpáticas! ^^/

  6. Andressa

    como eu faço para baixar os mangas do sait pois nao seu como
    eu axei muito legal o sait
    e os mangas incríveis

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