Vocês já pararam para se perguntar qual foi o primeiro anime com personagens gays que existiu?
As origens do gênero BL estão nos mangás shoujo escritos pelas autoras do Grupo do Ano 24, e essas obras pioneiras são chamadas de Shounen ai. O primeiro anime shounen ai foi baseado em um mangá shoujo, entretanto, quem o escreveu foi um homem. Vamos falar sobre Patalliro!, o primeiro anime shounen ai da história.
Edit: Devido ao tom cômico que a obra possui, muitos acadêmicos não consideram Patalliro! um shounen-ai .
O mangá Patalliro! é escrito por Mineo Maya, e começou a ser publicado na revista Hana to Yume em 1978. A publicação segue até hoje, apesar de ter mudado de revista algumas vezes, e o mangá já passou dos 100 volumes encadernados, além de ter ganhado diversos spin-offs e adaptações animadas e em live action.
O primeiro anime de Patalliro saiu em 1982, produzido pela Toei Animation. Seus 49 episódios são baseados nos capítulos do mangá, e eram exibidos no canal Fuji TV. Em 1983, pouco depois de a série acabar, foi lançado um filme de 50 minutos chamado Stardust Keikaku (Projeto Stardust), que narra um arco específico do mangá.
Depois, em 2005, veio Patalliro Saiyuuki, um anime baseado em um dos mangás spin off, produzido pela Magic Bus e exibido no canal Kids Station. Esse spin off conta uma história baseada em Jornada para o Oeste, livro chinês do século XVI, e coloca os três protagonistas do mangá como personagens desse livro.
As adaptações em live action vieram só em 2016, quando estreou a primeira peça de teatro baseada na obra. Outra peça veio em 2018, e um filme foi lançado em 2019. Todas essas adaptações em live action cobrem pontos principais do mangá, que também foram mostrados no anime de 82.
A premissa de Patalliro! é um pouco complicada de ser explicada em poucas palavras. O mangá (e, consequentemente, as adaptações baseadas nele) seguem aquela fórmula episódica, com várias histórias curtas, em vez de um único enredo que se desdobra ao longo de vários capítulos.
Essas histórias giram em torno das aventuras do personagem titular, o rei do reino fictício de Malynera. Patalliro tem 10 anos de idade, é um garoto gordo e atrevido que se considera um verdadeiro bishounen. Seu reino, localizado em uma ilha e também chamado de “Terra da Primavera Eterna” tem a venda dos diamantes extraídos de seu território como principal atividade econômica. Por causa dessas riquezas, Patalliro é alvo de várias pessoas má intencionadas.
Para protegê-lo de eventuais tentativas de assassinato, o Major Jack Barbarossa Bancoran atua como seu guarda-costas em algumas ocasiões. Agente da Inteligência Britânica, a MI6, Bancoran também chamado de Bishounen Killer devido a sua incrível habilidade de fazer qualquer rapaz bonito que o veja se apaixonar. Apesar de não suportar Patalliro, que o provoca e se insinua para cima dele a toda oportunidade, Bancoran cumpre bem seu papel de guarda-costas, em cenas de perseguição e trocas de tiro típicas de filmes de espião como 007.
Outro personagem importante para a história é Maraich Juschenfe. Maraich era um assassino que acabou cedendo aos encantos do Bishounen Killer, e decide abandonar sua vida de criminoso para ficar junto de Bancoran, colaborando com a MI6 em algumas ocasiões.
Há vários outros personagens nessa história, alguns que aparecem somente por um episódio, outros que aparecem mais vezes. Entre os personagens recorrentes do anime estão: a Divisão Tamanegi, os guardas reais de Malynera; Etrange, a mãe de Patalliro; Plasma X, Afro 18 e Purara, um família de robôs criados por Patalliro.
A temática dos episódios também varia bastante. Alguns são focados no Patalliro, e em atentados contra a vida dele, outros mostram Bancoran e Maraich em missões paralelas da MI6. Há também vários episódios em que Patalliro viaja no tempo e visita seus descendentes e antepassados, e episódios focados no Super Robô Plasma X e sua família.
De qualquer forma, o que faz Patalliro! ser considerado o primeiro anime shounen ai da história é a relação de Bancoran e Maraich. Apesar de não ser o foco do anime como um todo, vários episódios giram em torno da relação dos dois. Apesar de terem se conhecido de um jeito um pouco tumultuado, Bancoran e Maraich agem praticamente como se fossem casados, morando juntos e tudo mais, e todos que os conhecem sabem dessa relação.
Ninguém demonstra estranhamento quanto à relação dos dois. É quase como se a história se passasse em um mundo utópico em que relações entre pessoas do mesmo gênero não são mal vistas.
Além da relação dos dois personagens principais, há vários rapazes que se apaixonam ou dão em cima de outros rapazes ao longo do anime. Até o próprio Patalliro se insinua para cima de alguns moços (do Bancoran, em especial), apesar de essas tentativas em específico terem sempre uma conotação cômica, já que Patalliro se vê de forma muito diferente do que realmente é.
O anime de 1982 foi feito para o público infantil. Tanto o anime quanto o mangá são cheios de piadas bobas, com aqueles trocadilhos em japonês e referências à cultura pop japonesa da era Showa, especialmente dos anos 70 e 80. (Às vezes, esse humor meio besta me lembra um pouco dos desenhos antigos do Pica Pau :P). O filme live action e as peças de teatro modificaram aquele humor tão datado, o que é bom para conquistar um público mais jovem.
Aliás, também já deixo o aviso que há algumas piadas um tanto infelizes sobre abuso e assédio, tanto no anime quanto nos live actions. (Apesar de esses temas serem tratados com bastante seriedade em alguns episódios).
Falando nos live actions, o elenco foi muito bem escolhido. Não consigo imaginar nenhum ator mais apropriado para o papel de Patalliro do que Ryo Kato.
Um fato engraçado é que os produtores consideraram escalar uma atriz para o papel de Maraich, mas a filha de Mineo Maya, Yamada Marie, bateu o pé e insistiu para colocarem um homem. Por isso, Sana Hiroki foi escolhido para fazer o papel. É até um pouco engraçado ver Maraich sendo interpretado por um homem, porque em todas as versões do anime, ele é dublado por uma mulher, e a voz do Sana Hiroki é bem mais grave do que a do Tsunenori Aoki, que interpreta o Bancoran.
Acho que o roteiro da primeira peça de teatro ficou muito bem adaptado. Juntaram as histórias mais importantes, como quando Bancoran e Patalliro se conhecem, e a criação da divisão Tamanegi, fazendo algumas alterações para tudo ficar bem encaixado. As músicas também são muito boas, daquelas que grudam na sua cabeça. (Minha favorita, particularmente, é Koi no Sniper, o dueto de Bancoran e Maraich.)
Para mim, o único defeito das adaptações live action é que a estética não ficou tão parecida com a do anime. Adoro como os olhos são desenhados, e as rosas que estão sempre presentes no cenário. (O primeiro encerramento resume bem o que mais gosto na estética de Patalliro.)
Ah sim, e pra terminar, uma curiosidade engraçada: Maraich engravidou duas vezes no mangá. Na primeira vez, ele perde o bebê pouco depois de descobrir a gravidez. Na segunda, ele dá a luz a um menininho chamado Figaro. (O parto foi cesárea). Às vezes fico pensando se Patalliro foi o primeiro mangá mpreg da história, mas nunca pesquisei isso a fundo para saber. (Considerando que o capítulo em que a primeira gravidez ocorre foi publicado em 1981 ou 82, acho bem possível). Nenhuma das duas ocasiões foi mostrada nos animes, nem nos live actions.
Enfim, como falei, acho um pouco complicado explicar o conceito de Patalliro com palavras. Acho que essa frase de uma das músicas da peça explica bem a impressão que tenho dessa obra.
É uma obra que pode causar estranhamento em alguns, mas vale a pena conhecer e saber como é o primeiro anime com personagens gays da história.
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1 Comentário
Maravilhoso!
Acho que ele nunca chegou ao Brasil, né?