Entrevista: Sagan Sagan (Kono BL ga Yabai! 2021)
Essa é a segunda de uma série de entrevistas publicadas na revista Kono BL ga Yabai! 2021 que serão traduzidas e iremos publicar aqui no site.
A segunda entrevistada será a Sagan Sagan, autora do sucesso e fofíssimo Old-fashioned Cupcake. Esse BL chegou tanto ao topo do Kono BL Ga Yabai quanto do Chil Chil Bl Awards.
O Blyme já divulgou o TOP 20 de 2021 nesse link.
O que é o “cupcake” do título?
– Nos conte como surgiu a ideia para esta obra. Você começou criando os personagens?
Foi por acaso. Eu pensei que precisava desenhar algo seguro, que pudesse ser concluído sem que eu abandonasse no meio do caminho. Só pensei nos personagens depois.
-Um chefe bonitão na casa dos 40 e seu subordinado eficiente, aparentemente durão, na casa dos 30. Ambos de terno, comendo doces, é uma visão irresistível. Em que aspectos o casal e seu relacionamento incorporaram suas “coisas favoritas” e o seu “moe”?
Diria que gosto de semes de cabelo preto.
-“O arrependimento é o alimento para a felicidade, o combustível da vida”. “É só uma questão de diferença de idade, de ser parte uma minoria, de ter nascido em cidades diferentes ou torcer para times diferentes. Não tem nada demais nisso”. Falas como essas, que apareciam vez ou outra, foram bem marcantes. Acredito que muitas pessoas se identificaram, especialmente, com Nozue – acovardado diante de tudo que é ‘novo’, por ser um quarentão – e que foram encorajadas pelo Togawa. Conte-nos o contexto por trás da sua decisão de desenhar os conflitos de Nozue.
Enquanto pensava no plot, me vieram à mente essas falas e acabou tomando esse rumo. Complexo com a idade é algo comum para qualquer pessoa, não é como se houvesse alguma circunstância especial além disso para mim. Mas eu acredito ter pensado em como eu mesma os encorajaria, caso pessoas como o Nozue e Togawa aparecessem na minha frente. Não é como se os valores dos dois fossem os mesmos que os meus, no entanto.
-Já estava decidido, desde o começo, quem seria o uke e o seme?
Estava. Dessa vez a pessoa que queria ajudar foi o seme, e a pessoa que precisava de ajuda foi o uke.
-Conte-nos a origem do título “Old-fashioned Cupcake”.
Cupcake é, assim como honey ou sweetie, um apelido carinhoso usado com namorados, crianças ou alguém da família. Old-fashioned tem um sentido negativo também, mas, nesse título, minha intenção era passar o sentido de que, não importa quantos anos passem, “você sempre será meu amorzinho”. E isso é não apenas sobre o Nozue visto pelos olhos do Togawa, mas também sobre o Togawa visto pelos olhos do Nozue.
-Suponho que, pela meiguice de Nozue, muitas pessoas tenham desejado “apreciar um tiozão desses na vida real”. Você utilizou alguém como modelo para Nozue e Togawa? Houve alguma experiência que tenha servido de referência para escrever esta obra?
Eles foram totalmente frutos da minha imaginação. Também não tive experiências que tenha usado como referência. Sinto muito.
Antes de começar a serialização, quando pensei nos personagens, meu editor me disse para não envelhecer mais ainda o Nozue. Nessa hora eu pensei: “mas logo o nosso tão esperado tiozão…?” porém, enquanto desenhava, percebi que a falta de realismo no Nozue é justamente a parte “BL comercial” dessa obra e, também, a parte que a torna um mangá. Eu não estava desenhando um “tiozão”, e sim um “mangá BL comercial”, então acho que isso é importante.
O momento mais divertido até agora
-Conte-nos os pontos ou cenas que foram mais divertidas de desenhar.
Desenhar ternos é divertido, mas só quando meu corpo e minha mente estão tranquilos.
-Os personagens, quando pareciam estar se aproximando, paravam no meio do caminho várias vezes. Essa “sensação de provocação” entre os dois era irresistível. O tankobon (volume) de 250 páginas também foi dos mais longos. Você pensava, desde o início, em ir diminuindo a distância entre os dois lentamente desse jeito?
Foi decidido, no começo, que seriam 5 capítulos. Então fiz os dois ficarem juntos em 5 capítulos de mais ou menos 30 páginas.
-Como foi, para você, o período durante a serialização? Quais foram seus sentimentos após a conclusão dos desenhos?
Dentre todas as coisas que já fiz até hoje, essa foi a mais divertida, e eu sei que realmente tenho muito o que agradecer. Mas sempre me dá vontade de fugir sem motivo.
-Ouvimos muitas pessoas tecendo elogios ao enquadramento refinado, às coisas que cercam os protagonistas e à beleza dos detalhes dos edifícios. Conte-nos seus critérios para desenhar cenários e detalhes.
Pode ser que isso seja um método com termos técnicos específicos, então me desculpe se eu explicar de um jeito mais infantil.
Eu desenho os cenários utilizando “espaço” e “silêncio”, deixando a interpretação por conta do leitor. Coisas inanimadas ou o ar muitas vezes falam sobre as pessoas. Esse tipo de expressão aparece muito, tanto em mangás quanto em filmes, livros, em tudo. Eu gosto dos trabalhos criativos pois não se restringem uma “resposta certa”. Então, almejando esse “deixar por conta da interpretação do leitor”, desenho esses quadros, conhecidos como “quadros inúteis”.
Há mais “espaço” do que se imagina entre as falas das pessoas. Acredito que o silêncio de quando paramos para pensar ou ficamos em dúvida entre dizer ou não alguma coisa também faz parte do “drama”. “Não dá pra entender se você não falar nada!” é uma frase que escuto muito, e concordo totalmente, mas com mangá não é assim. Existem quadros em que, justamente quando o personagem fica em silêncio, nós enquanto terceiros conseguimos perceber certas coisas. É engraçado, não é? Uma coisa que é tão óbvia em mangás, mas que não acontece na realidade. Acho engraçado quando paro pra pensar nisso.
No entanto, quando termino de desenhar, eu mesma esqueço pra quê serviam esses quadros. Então eu ficaria extremamente agradecida se lessem de qualquer jeito.
-A cena por volta do meio do capítulo 2, onde o monólogo de Nozue vai avançando com os acontecimentos ao redor, foi muito marcante e bonita. Há algum critério específico seu para desenhar os sentimentos dos personagens?
Eu tenho consciência de que pode ter sido um texto um pouco vergonhoso para alguns leitores. Mas, no meu caso, é o contrário: tenho vergonha de expressar que o céu é azul dizendo que o céu é azul, então eu sempre acabo brincando desse jeito.
-“Fala alguma coisa” “Case comigo”. Essa passagem no capítulo extra foi complemente maravilhosa. Você já pensava desde o começo em desenhar uma cena de pedido de casamento assim, dentro do cotidiano?
Eu tinha pensado mais ou menos, e acabou tendo esse desdobramento. Eu sempre finalizo enquanto vou fazendo os personagens conversarem.
A Origem do Pseudônimo da Sagan-sensei
-Esse é o seu segundo trabalho, depois de “Haru to Natsu to Nacchan to Aki to Fuyu to Boku”, que tem como tema estudantes amigos de infância. Conte-nos os pontos que você acredita terem evoluído ou mudado, pontos que você notou desenhando a obra atual.
Acho que eu nunca mais conseguirei desenhar um 4koma como “Haru to Natsu to Nacchan to Fuyu to Boku”. E mesmo que desenhe, acredito que se tornará algo completamente diferente. Acho que é porque eu passei a pensar em várias coisas desnecessárias como: o que são mangás? O que será que os leitores vão pensar? Não quero que alguém me odeie, ao invés de odiar minha obra.
-Sagan-sensei, qual a origem desse seu pseudônimo único?
Eu brinquei com meu nome verdadeiro. Até não sobrar nenhum vestígio dele.
-Você sempre quis ser mangaká?
Nunca desejei me tornar mangaká. Sempre considerei o desenho como um hobby.
-Conte-nos a sua experiência até o debut.
Me chamaram pelo pixiv. Me desculpe por ter muito que eu possa falar sobre isso.
-Em que momentos você sente que foi bom ter se tornado mangaká?
É bom não precisar escrever currículos. Quando eu soube que não precisaria falar coisas que eu não quisesse do meu passado ou histórico escolar, pensei: “nossa, que indústria gentil”. Tudo que eu precisava fazer era desenhar, e isso pareceu bastante gentil para mim. Claro, acredito que há momentos em que um currículo é necessário. Seria incrível se não fosse. Fora isso, é ótimo ter um cotidiano em que eu não precise lidar com ninguém além do meu editor, sou grata por isso.
-Conte-nos se há algo que não pode faltar quando você desenha mangás (produtos de sua preferência, música etc.).
Silêncio. Gostaria de morar em um lugar onde não houvesse ninguém vivendo ao redor.
-O que você faz para mudar de ares quando tem bloqueios criativos no manuscrito?
Agora não tenho mais tempo para mudança de ares, não tenho o que fazer a não ser desenhar a qualquer custo. Se eu tivesse tempo para mudar de ares, dormiria.
-Conte-nos sobre a mudança nos seus gostos de moe ao longo do tempo.
Não sei responder muito bem. Eu acho que conheci BL na época do Ensino Médio, mas não é como se eu fosse fã de BL sempre desde então. Então não tenho muita história para contar.
-Conte-nos seu tipo de ship ou situação favorita.
Acredito que qualquer coisa com final feliz seja moe.
-O que mudou na sua rotina com a pandemia do novo coronavírus?
Nada mudou, em particular. Tenho apenas que agradecer, por poder continuar trabalhando sem nenhuma mudança.
-Conte-nos o que você faz para aliviar o estresse.
Estresse não é algo que não alivia nunca…? Pelo menos enquanto estamos vivos.
-Qual a coisa que você mais quer nesse momento?
Tempo.
-Há algum desafio que você gostaria de fazer com mangá* a partir de agora? Algum tipo de personagem, dinâmica de relacionamento, indústria ou tema que você gostaria de desenhar?
Quero desenhar finais felizes. Porque não existem finais felizes na vida real.
-Para você, o que é o gênero BL, ou desenhar romance entre homens?
Essa é uma pergunta muito delicada e difícil de responder. Não sei muito bem. Apenas gosto de desenhar, e o que quero desenhar é BL. Acho que essa é, por acaso, a coisa pela qual o meu sentimento de “gostar” acaba sendo mais forte. Mas, quero desenhar apenas depois de ter pensado muito, muito, muito bem, para que essas minhas fantasias impensadas não machuquem o amor real de ninguém.
-Por fim, pode deixar uma mensagem aos leitores?
Sou extremamente grata a todos. Meus sinceros agradecimentos por terem lido o mangá. Me desculpem se, no futuro, eu responder as mesmas questões de forma diferente. Sinto muito só conseguir dizer a mesma coisa todas as vezes, mas novamente, estou realmente muito agradecida. Que todos permaneçam sempre bem e com saúde.
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