Avaliação
História: 7/10
Personagens: 9/10
Abordagem: 8/10
Divertimento: 9/10
Total: 8.25 (4 estrelas)
Não poderia ser melhor o título. A expressão “antes tarde do nunca” cabe muito bem para esse texto. Faltando poucos dias para sair de cartaz dos cinemas do Brasil, onde o desempenho está satisfatório (4º lugar na bilheteria na semana de estreia e 7º na segunda e caminhando para uma terceira no top10 nacional), o filme baseado na obra Simon vs. the Homo Sapiens Agenda da autora norte-americana Becky Albertalli (a versão em português pela editora Intrínseca) merece uma resenha digna aqui no Blyme. Mas não para por aí: a expressão também é a que melhor se encaixa em tudo relacionado a esta obra e vocês verão o porquê.
O filme já começou dando um soco de alegria no autor dessa resenha: Simon (vivido pelo meu crush de Jurassic World, Nick Robinson), ao se apresentar para o público que assiste, dá uma pequena pausa para explicar com imagens (E QUE IMAGENS) o porque de sua tão perfeitinha vida num subúrbio de classe média alta de Atlanta ter um porém: abre a persiana de seu cantinho para vislumbrar um belíssimo (e gostoso) rapaz cortando grama em frente sua casa. Mais didático impossível. Nessa singela cena eu já pude colocar o filme num hall seleto: é provavelmente o único de circuito comercial que não catastrofiza a auto-aceitação da própria sexualidade.
Simon é para todos os fins e meios, uma versão contemporânea e 20th Century Fox das princesas Disney: possui carro próprio, tem pais compreensivos, um doce de irmã mais nova e 3 amigos com um coração de ouro. E o próprio tem consciência de que provavelmente não seria rejeitado por nenhum daqueles que ama. Sendo assim, acabou o filme, não é? “Onde está o espaço para o plot?”, você deve se perguntar. É justamente neste ponto que eu preciso tecer algumas pequenas críticas negativas: a autora cria obstáculos que não seriam tão difíceis de lidar num contexto “país desenvolvido em 2018”. Ao invés de retratar a sempre difícil saída do armário, independente de onde você viva de uma maneira mais verossímil, ela faz uma licença poética pra justificar o porque em fucking 2018 duas pessoas estão se comunicando afetivamente por… e-mail. Não retratar aplicativos como Grindr ou Tinder (embora eles SEJAM CITADOS) foi uma escolha óbvia: menores de idade são os personagens e menores de idade são o público-alvo do filme, por mais que em todas as salas do mundo onde está sendo exibido tivessem muitos casais LGBT e fujoshis adultos no meio.
O filme tenta criar um contexto problemático para o outing de Simon mais do que ele realmente seria. Excessos à parte, o filme retoma referencias que meninos gays (e outros integrantes LGBTQIA) conhecem bem: o coração acelerado daquela mensagem do contatinho que ninguém pode saber, para a sua própria segurança e a do parceiro (Cabe aqui enfatizar essa parte. No fim, talvez com um pouco de vergonha pela licença poética esticada, a autora muda razão pra Simon fazer o que faz: ele não estava pensando no próprio bem estar, mas priorizando a segurança de seu amado Blue, que estava inseguro quanto ao próprio outing), os primeiros despertares sexuais (só quem estava na sala de cinema comigo sabe o GRITO que eu dei quando Simon revelou que seu primeiro crush foi Daniel Radcliffe em Harry Potter, porque bem, também foi o meu RS), a tendência de fugir da realidade para esquecer o medo da rejeição, as “saídas inteligentes” para não ser vítima de bullying que acabam saindo pela culatra e magoado alguém e as dúvidas sobre quem pode estar no mesmo barco que você.
Em termos de representatividade, o filme marca golaços: condizendo com a realidade de Atlanta, onde 54% dos habitantes são negros, a presença de personagens afroamericanos em papeis importantes é comemorar: dois dos melhores amigos de Simon (Abby e Nick), a professora Albright (que dirige a peça Cabaret, a ser encenada pelos personagens do núcleo principal), Ethan (até então único gay assumido do colégio, e na minha opinião, o melhor personagem do filme) e o charmoso Bram [SPOILER ALERT: é o príncipe encantado Blue]. O elenco feminino também está por cima, todas as mulheres, desde a pequena Nora até a caricata Taylor tem papel fundamental no desenvolvimento da história.
Se me permitem um pouco de humor, até a representatividade com atrizes injustiçadas por seus papeis no passado teve: Jennifer Garner (a eterna Elektra) e a indicada ao Globo de Ouro desse ano, Katherine Longford (a eterna Hannah Baker) estão ótimas. Fiquei tão contente com a presença da Jennifer, que interpreta a amável mãe de Simon, que simplesmente não me conti: me referia até o fim como a “Tia Elektra”, ao ponto de ter dito: “Simon, calma poc, a tua mãe é a Elektra, é uma terapeuta fina e inteligente, ela vai te aceitar e ajudar”.
Voltando ao plot, ainda sobra espaço para que Com Amor Simon justifique ser tão elogiado: bullying e chantagem marcam presença e representam o ponto dramático da história. Porém, numa acertada decisão da autora, é o próprio que cava sua tragédia: incapaz de buscar uma saída segura pras ameaças, o protagonista acaba por envolver seus 3 amigos.
O clímax chega logo que o sofrimento se instala, o que para pessoas como eu, que detestam tristeza, é um alívio. Logo após do castigo pelas burradas que fez, nosso poc príncipe encontra o apoio de todos para que possa, finalmente, viver seu final feliz.
No final das contas, com todos as boas referências e por se encaixar exatamente no tipo de filme que eu posso ver 500 vezes e continuar amando, posso dizer que sim: antes tarde do que nunca! Fazia muito tempo que não via um filme (seja do circuito comercial, blockbuster ou de arte) que eu poderia bater no peito e dizer: Ficará pra sempre em mim. Com exceção de Coco, animação vencedora do Oscar deste ano, creio que os últimos tenham sido lá pros indos de 2012 ou mesmo na década de 2000.
Love Simon é um filme necessário. Era o filme que o eu de 12 anos / 13 anos precisava. Para uma fujoshi ou fudanshi já crescidos, ele não deixa de ser um tesouro (Becky poderia ser classificada como uma autora que faz slash/BL ocidental com esse livro), mas certamente quem mais tem a ganhar são os jovens em idade escolar. É o filme que pode te dar aquela paz nessa fase cheia de incertezas.
Em longo prazo, não tenho a menor dúvida: estará no hall de filmes adolescentes que, independente da qualidade técnica, guardam todo o ethos de uma geração, como foram As Patricinhas de Beverly Hills, com Alicia Silverstone e Brittany Murphy; A Nova Cinderela, com Hilary Duff; Meninas Malvadas; com Lindsay Lohan ou em caso mais recente, A Culpa é das Estrelas, com Ensel Elgort. Estará para sempre na sessão da tarde dos nossos corações. Só que desta vez, com protagonismo LGBT. Antes tarde do que nunca!
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