Tradução: Os homens japoneses leem boy’s love?
Essa é uma tradução/resumo deste artigo sobre a relação entre homens e o gênero boy’s love no Japão.
Recebemos muitas perguntas e afirmações equivocadas sobre o assunto, por isso sempre é interessante saber a opinião dos que estão realmente inseridos na cultura LGBT+ japonesa.
Os homens japoneses leem BL? O que eles acham das mulheres que leem BL?
Tradução/resumo por Emi ( @kuromantic )
Thread original no Twitter (em inglês)
Ryu-san, o editor-chefe da Barazoku, uma tradicional revista gay japonesa, respondeu algumas perguntas sobre boy’s love (BL), fujoshi e gays.
“Sim, nós lemos BL”, ele disse. “No BL, há muitos clichês/tropes semelhantes aos antigos dramas românticos. Como empurrar alguém contra a parede (acredito que se refere a kabedon).”
“Acho que podemos dizer que é um gênero feminino. Ler ou não BL vai do gosto de cada um. Mas é claro, conteúdo preconceituoso que trate homens como objetos não são apreciados.”
Nos anos 80 houve um grande embate entre as mulheres que leem a barazoku e os homens gays.
Naquela época as mulheres queriam uma fantasia de uma relação gay pura e espontânea, que não fosse deliberada como uma relação hétero. Um grupo escreveu cartas dizendo “os modelos da Barazoku são todos feios e toscos”, enfurecendo homens gays reais. Eles não queriam o ideal de um homem “magro e bonito” empurrado goela abaixo.
Ryu-san disse que há 2 tipos de “fujoshi” (mulheres que gostam de BL). O primeiro tipo é aquela que tenta projetar ou forçar suas fantasias nas pessoas reais. O segundo tipo faz de tudo para não prejudicar as pessoas gays com suas fantasias. “É mais uma questão de educação e empatia, do que ser uma fujoshi ou não.”
Há um choque de geração nas opiniões dos homens gays em relação ao BL. “Os mais velhos muitas vezes não gostam de BL porque a imagem do BL dos anos 80 ficou em sua mente. Há os que detestem qualquer coisa “feminina”. Mas os gays mais novos que leem BL, os “fudanshi gay“, existem. Existem porque há mais otakus nos dias de hoje.”
“Esses otakus gays podem ler ou escrever BL.”
Outras pessoas gays deram sua opinião sobre BL. “Nunca li, não tenho interesse.” “Achei que não era realista, por isso não consegui me identificar ou me interessar.” “Leio como pornografia.”
Amiya Yuki, representante de uma organização de visibilidade LGBT+, também foi entrevistado. Ele sempre recebe recomendações de duas colegas fujoshi. “Eu curto mangá, então também leio BL. Gosto de mangás para adolescentes. Prefiro certos estilos de arte, seja BL ou não. Há muitos BL de alta qualidade.”
As pessoas que tiveram experiências ruins com fujoshis dizem a mesma coisa — elas foram insensíveis e invasivas. Essas pessoas foram perguntadas sobre que tipo de sexo elas faziam, ouviram coisas como “sempre quis conhecer um homem gay”, etc etc.
Quando informado que muitas fujoshi se preocupam se gostar de BL é prejudicial para as pessoas gays, o dono de um restaurante riu e disse: “Algumas fujoshi se preocupam se o BL é ofensivo para os gays? Se é para se preocupar, que se tornem nossas aliadas! Um homem gay e um homem hétero são homens, então alguns gays têm fantasias com caras hétero também.”
“Tanto fujoshi quanto gays têm o direito de ter fantasias. Todos nós somos inconvenientes às vezes! Pode ser que uma fujoshi encontre você pela primeira vez e pergunte “como você faz sexo?”, mas acredito que podemos mostrar a elas como as pessoas gays são na vida real e torná-las as nossas aliadas.”
“Se elas disserem ‘você está estragando a minha fantasia!’, aí é preocupante. Mas algumas pessoas simplesmente não compreendem os gays. “Os gays podem se beneficiar do BL, porque ele pode espalhar a visibilidade e a compreensão sobre o assunto. Isso vai depender de nós e em como podemos usar o BL em favor das pessoas gays!”
As imagens em destaque pertencem ao anime Skull Face Bookseller Honda-san, onde esta simpática caveira vendedora de livros atende a todo o tipo de público em seu dia a dia, incluindo as fujoshi. Na capa, um screenshot do episódio onde Honda-san atendeu um casal gay que procurava por mangás de conteúdo homossexual.
Saiba mais:
Artigo: Autoras de Boy’s Love discutem o impacto da visibilidade LGBT no gênero
Entrevista: Masaki C. Matsumoto – Queer e ativista feminista
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2 Comentários
Amei este post! Muito obrigada por terem traduzido! É uma discussão muito pertinente e hoje em dia muito tem se discutido sobre isso, sobre essa questão de mulheres lerem BL, fetichização e tals. Eu concordo com muitos pontos de vista aqui, principalmente em relação a usar o BL a favor da causa LGBTQIA+. Eu não concordo com a atitude de algumas fujoshis em serem invasivas e insensíveis assim. Como mulher que faz parte da comunidade, eu entendo esse desconforto de ser questionado de forma indelicada e eles tem todo o direito de se sentirem incomodados. Pessoas LGBTQIA+ existem e merecem respeito!
“o dono de um restaurante”, não sei quem é, nunca vi, mas já amo pacas…