Given (Episódios 1 a 3)
Quando se trata de adaptações, uma das principais dúvidas é saber como a mesma história pode ser aproveitada através de outro formato de mídia. No caso de Given, um mangá sobre música, as possibilidades são uma faca de dois gumes. Por um lado é possível transportar toda a questão musical para o anime, o que um mangá não consegue, porém caso o aspecto musical falhe isso pode matar o aproveitamento de uma parte fundamental da história.
E é com esse pensamento que eu começo a assistir o anime BL baseado no mangá da Kizu Natsuki.
No primeiro episódio temos um início silencioso, com a direção afiada de Hikaru Yamaguchi, que consegue transmitir a ideia de um menino preso ao passado sem dizer muita coisa. Na verdade, toda a direção com relação a luz nas cenas é muito marcante, ajudando a transmitir sentimentos e pistas sobre a história de forma eficiente e muito bonita. Compensando o fato de que Given é claramente um anime com um orçamento modesto.
Depois disso conhecemos um Uenoyama sonolento que encontra um garoto dormindo abraçado a uma guitarra no lugar onde costuma tirar um cochilo na escola. Irritado com o silêncio, o moreno menciona o instrumento e acaba sendo “forçado” a trocar as cordas da guitarra porque não resiste a carinha de cachorro abandonado na chuva do outro menino.
Após a cena de afinação mais marcante dos animes, o menino misterioso fica enchendo o saco do nosso coleguinha pedindo para ensiná-lo a tocar guitarra. Uenoyama é um guitarrista habilidoso, mas que não tem mais a mesma paixão pela música e nunca ensinou ninguém a tocar.
O garoto acaba seguindo Uenoyama até o estúdio onde conhecemos o resto da banda, o baterista Kaji e o baixista Haruki. E como todo músico que se preze, os membros mais velhos aproveitam o espectador para mostrar suas habilidades para impressionar a audiência.
E aí temos a minha parte favorita do episódio, uma jam session de math rock japonês. A animação surpreende já que o CG ajuda a criar o efeito de que os personagens estão de fato tocando o que estamos ouvindo nos momentos que a câmera foca nas mãos dos personagens.
[Para quem não conhece, Math Rock é um gênero musical que surgiu nos EUA nos anos 80, mas que é muito bem sucedido no Japão e com várias bandas incríveis. A composição musical neste gênero é bastante complexa, incorporando métricas incomuns em seu ritmo, tido como matemático, daí o nome, literalmente “rock matemático”. Caso queiram conhecer mais, recomendo muito que escutem Tricot que está disponível no Spotify]
Após essa cena, temos Mafuyu mais uma vez sendo rejeitado, mas já está mais óbvio a essa altura que o Uenoyama está prestes a ceder ao pedido. Porém Satou desaparece do ponto de soneca na escola, deixando o protagonista sem saber o que fazer e em estado de “choque”…….. Até Mafuyu aparecer no estúdio de novo hehe.
O episódio 2 já começa com o Uenoyama iniciando as aulas de guitarra. Mas seria mais correto dizer que ele está ensinando O QUE É uma guitarra para o Mafuyu. Desde a frequência com que se deve afinar uma guitarra, acordes, até a alegria do restante da banda de ver o Uenoyama se importando em ensinar o garoto. Na verdade toda a primeira metade do episódio se trata de conteúdo original, que não existe no mangá.
MAS antes que você acuse o anime de estar usando filler logo no início, boa parte das cenas funcionam como complemento para dar mais força ao início do relacionamento entre Uenoyama e Mafuyu. Sem falar que muitas cenas envolvem som, o que não pode ser feito da mesma forma no mangá. Dá a entender que boa parte disso aconteceu no mangá (que usa muitos intervalos de tempo) então a não ser que você já tenha lido o quadrinho, as novas cenas não soam deslocadas.
Minha favorita é quando o Mafuyu aprende a tocar um acorde pela primeira vez e, como TODO MUNDO que já tentou tocar um violão/guitarra antes, começa a tocar qualquer coisa sem sentido só porque sim.
No entanto, isso gera a discussão de até onde o estúdio planeja adaptar o mangá de Given, que tem 5 volumes atualmente e continua incompleto até a publicação desse texto. Meu chute atual é que deve seguir até o final do segundo volume ou início do terceiro, e assim abrir espaço para uma segunda temporada. Será?
O conteúdo do mangá começa quando Haruki e Kaji estão conversando sobre a personalidade do guitarrista, deixando claro que ambos se importam muito com o membro mais novo da banda.
O ponto mais hilário do episódio é quando todos estão levemente “incentivando” o Mafuyu a conseguir um emprego para ajudar com os gastos do estúdio e instrumentos, ser músico é um hobby caro afinal, e conhecemos um pouco mais sobre cada personagem.
Porém ao final do segundo episódio, as perguntas acumulam. Porque o Mafuyu quer aprender a tocar guitarra? De quem é a guitarra? Até porque o modelo dele não é coisa que um amador teria (uma guitarra do modelo do Mafuyu custa em média uns 5 mil reais).
E aí temos o momento mais esperado do episódio: A VOZ DO MAFUYU.
Então, no mangá não temos som e a página não tem qualquer indício do que está sendo cantado então o leitor podia imaginar o que quisesse sobre a voz do personagem. E eles escolheram o “lalalala” que agora eu confesso que soa deslocado, embora em nenhum momento o dublador esteja cantando errado ou desafinado. Acredito que teria sido melhor se fizessem o personagem cantarolar igual o baixista e o baterista fazem no início da jam session do primeiro episódio.
Algumas pessoas acreditavam que teria sido melhor “esconder a voz” do Mafuyu igual fazem no Drama CD, mas pessoalmente acho que isso que poderia ser um tiro do pé do anime criando uma expectativa maior do que deveria.
Uenoyama fica encantado pela voz do menino e num ataque de ‘broderagem’ convida o Mafuyu para entrar na banda.
Esse texto já está gigante, socorro, então OKAY, GIVEN EPISÓDIO 3. Adicionaram mais cenas que não tinham no mangá, mas menos do que no episódio passado, um bom sinal.
O anime claramente está preenchendo espaços que o mangá deixa vago, fortalecendo o relacionamento do Mafuyu e do Uenoyama. Das cenas novas, gosto como o Uenoyama é 150% mais gay panic no anime e eu adoro isso.
Em alguns momentos eu acho que fica mais devagar do que deveria, mas pode ser só eu que gosto de uma direção mais ágil (tanto que minhas diretoras favoritas não são a Sayo Yamamoto e a Matsumoto Rie a toa), mas no geral a direção no anime está EXCELENTE mesmo que a animação não mantenha a qualidade sempre. O episódio 3 já mostra as primeiras cenas de qualidade duvidosa, mas nada que atrapalhe os momentos chave do episódio, que adapta o capítulo 4 do mangá basicamente.
Gostei também que já informaram parte do passado do Mafuyu com relação a guitarra, já deixando claro que ele perdeu alguém importante. E já para sentir o caminhão de drama chegando com a aparição de uma pessoa do passado.
O episódio termina com o Mafuyu cantando novamente, mas mesmo que a voz não convença sempre, a direção do anime já deixa claro: Mafuyu é o nosso vocalista.
Given está sendo exibido oficialmente no Brasil através da Crunchyroll.
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4 Comentários
Olá!Esperi que vocês estejam bem e com saúde!
Adorei a resenha! Given é viciante e tudo aumentou mais com o filme!
Vocês vão postar a continuação dos episódios? E resenha do filme?
Beijos
Eu tô amando Given
Uma preocupação que eu tinha era de fato a voz do Mafuyu – em Beck de início a voz do Koyuki não me convenceu – mas acho que se a direção continuar competente pode nos convencer de que ele é tudo isso mesmo.
Único anime da temporada que estou esperando ansiosa pelo próximo episódio.
Given é amorzim demais, adoro esse clima de namorico se desenrolando. Ah, e a cena das profissões me fez esboçar de tal maneira…kkkk
Fiquei bem chateado com essa queda de qualidade na animação. Caramba, custa fazer um anime yaoi bem produzido? Já fizeram isso com uns yuris, porque não fazem com o yaoi? Bom, mas tirando isso, tô adorando a adaptação, acho que vai ser um anime ao menos na média.