A nossa amiga Ana (twitter: @verstance ig: @holyaeon_) esteve no SANA (o maior evento geek do nordeste), e fez para a gente um resumo do painel “HQs pelo Nordeste”, com a Luiza de Souza (Ilustralu), a professora Blenda Furtado e perguntas do PJ Brandão, professor universitário e pesquisador de quadrinhos!
Fortaleza, 16 de julho de 2022
Luiza trabalha com quadrinhos e ilustração desde 2014 e publicou em 2019/2020 a webcomic “Arlindo” que foi publicada em formato físico em 2021 pela editora Seguinte.
É um quadrinho do garoto que encontrou seu lugar no mundo! Na sexta-feira, dia 15/07, Arlindo ganhou a premiação da CCXP de melhor quadrinho.
Luiza diz não estaria aqui se não fosse a internet! A internet permitiu a viralização de conteúdos que antes a gente não tinha acesso, era muito unilateral e só vinha do Sul e Sudeste. Com o advento da internet, produzimos nossas próprias coisas sem interferências. Antes todos os quadrinhos pareciam centralizados nos mesmos lugares.
Quando a Luiza teve inspiração pra continuar Arlindo?
Luiza notou que a história dava pra virar algo “maior” quando uma das últimas páginas da obra viralizou e as pessoas começaram a contar suas próprias histórias. E o Arlindo tem muita história, mas a mais marcante foi sobre o momento em que ele vai se assumir para a mãe. Ao longo dos comentários, Luiza viu muitos relatos sobre pessoas se assumindo e ela acha esse trecho a parte mais linda da comic. Ela também disse que chorou muito lendo os comentários e tentava ler todos. “Arlindo” foi escrito há muito tempo, mas ela ficou feliz por ter viralizado depois! Arlindo soa verdadeiro porque é parecido com o que ela viveu na adolescência, com os amigos. Luiza trouxe muito da realidade dela para a comic, até mesmo os trejeitos do nosso sotaque e forma de falar. É uma história muito honesta. Ela reforça que as pessoas podem ler sua obra gratuitamente pelo Twitter.
Como é a questão da regionalidade sendo do Nordeste e as pessoas achando que somos todos iguais?
Luiza informa que precisamos compreender como não pesar a mão nas nossas histórias para que elas não se tornem caricaturas e cita “O Auto da Compadecida”, que embora seja uma ótima obra, reforça alguns estigmas a respeito do Nordeste. Nossas referências eram de como o Sudeste via a gente. O quanto da nossa realidade está nessas histórias? Entender onde você está sendo verdadeiro sobre sua raiz. Muito sobre esses questionamentos podemos observar em “Arlindo Sou Eu – Episódio 2 (regionalidade)” que também discute sobre masculinidade tóxica e estereótipos de homem “cabra macho” e até que ponto isso é uma realidade ou uma visão distorcida sobre as pessoas do Nordeste.
Como é fazer o diálogo com o nordestino e o que vem de fora?
Luiza: ela usou muitas referências da vida externa, até porque vivemos essas influências no dia-a-dia e também fazem parte da gente. Ela fez uma página com um armário inteiro cheio de referências, como a coleção de Sakura Card Captors, que ela acredita que fez parte da adolescência de muitos jovens LGBTQIA+.
Como é se inserir no quadrinho NACIONAL?
Luiza: acredita que não existe esse recorte. Algumas pessoas pensam que nacional é o que é adaptado, como quando mudam o sotaque para o Jornal Nacional. A gente passou a vida inteira consumindo conteúdo de outras regiões e eles deveriam consumir nosso conteúdo também. O Brasil não é feito só da população tradicional que fazia histórias. Quadrinho brasileiro é feito por alguém no Brasil independente de onde se passa.
Luiza ainda diz que queria ver história de cantora de Calypso, de briga, de drama, de “novela mexicana” de cantores de forró, ou duas senhorinhas arengando! Indo além nas questões que conhecemos ou convivemos e compartilhando com o mundo.
PJ Brandão cita a pressão que artistas do Nordeste sofrem em trabalhar com elementos caricatos ou se adaptarem totalmente a uma nova perspectiva cultural.
Luiza: disse que pessoas até hoje a param e perguntam: “e então, já se mudou pra São Paulo?” Mas ela acredita que não temos necessariamente que ir embora de onde nascemos para as histórias serem boas. Ela entendeu isso e parou de fazer algo romantizado. Precisamos lidar com as histórias que queremos contar de verdade.
Sobre Arlindo
Uma história sobre descobrir que a gente não tá só.
Arlindo é um garoto cheio de sonhos e vontade de encontrar seu lugar no mundo. Tudo o que ele quer é seguir sua vida de adolescente na cidadezinha onde mora, no interior do Rio Grande do Norte. Ele aluga filmes na locadora com as amigas todo sábado, sente o coração bater mais forte pelas primeiras paqueras, canta muito Sandy & Júnior no chuveiro, e ainda cuida da irmã mais nova e ajuda a mãe a fazer doces para vender.
Por mais que ele se esforce e dê o seu melhor, muita gente na cidade não aceita Arlindo ― o que traz uma série de problemas na escola e até mesmo dentro de casa. Aos poucos, porém, ele vai perceber que vale a pena lutar para ser quem ele é, ainda mais quando tem tanta gente com quem contar.
Com um traço divertido, cores vibrantes e um monte de referências aos anos 2000, esta história em quadrinhos que já conquistou milhares de fãs na internet fala sobre encontrar forças nas pessoas que a gente ama e dentro de nós mesmos.
Sobre a autora
Luiza de Souza nasceu em Currais Novos (RN), em 1992. Estudou publicidade (UFRN) e está na internet como @ilustralu. Trabalha como ilustradora, faz quadrinhos e participa de projetos empolgantes pra ganhar a vida, manter o juízo no lugar e alimentar Goiaba, sua gata. A praia dela é a de contar as histórias que sempre quis ler. Gosta de escrever sobre relacionamentos, sobre cotidiano, sobre cidades — mas principalmente sobre pessoas e os universos que existem dentro e ao redor de todas elas. Arlindo é uma dessas histórias, e talvez a que mais a emocionou e desafiou até aqui.
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