Fujoshi pelo mundo – BL fora do Japão
O site japonês Chill Chill, especializado em BL, publicou uma matéria da pesquisadora e colunista Holly sobre o crescimento da cultura BL ao redor do mundo e, graças ao nosso colaborador Kousaka-Ouji estou trazendo este texto (em tradução livre) para vocês!
A coluna foi escrita para comemorar o lançamento do livro “BL no Kyoukasho“ (Livro didático BL) e começa com as reflexões da autora após sua viagem à Inglaterra:
“Eu queria muito ler os BLs ingleses! No exterior eles são chamados de romances m/m. ‘Quero ler os romances de Josh Lanyon no idioma original!’ – foi o que pensei. Só que mesmo após muita procura, não encontrava os livros que queria de jeito nenhum. Só no último dia da minha viagem soube que existia uma loja estilo Animate chamada ‘Forbidden Planet’, que atendia o nicho otaku. Então eu corri até lá e finalmente encontrei alguma coisa BL!
Havia muitos mangás BL traduzidos, mas muito poucos BL de fora do Japão! Foi então que bati o olho no que parecia ser um BL sobre um adolescente britânico jogador de futebol americano! (a autora se refere a Heartstopper, quadrinho de Alice Oseman publicado no Brasil pela editora Seguinte)
O que me deixou curiosa foi ‘será que o Japão é o único país onde o BL é vendido em livrarias não-especializadas?’, ‘onde as fujoshi estrangeiras compram seus BL?‘, então pensei – quando for a outro país, assim que conseguir entrar em contato com fujoshis e fudanshis estrangeiros, vou começar uma pesquisa sobre BL!
Essa introdução ficou meio longa, mas agora vou resumir o que descobri sobre a cultura do BL e a história do BL em cada país!
Quais são os BL populares nos EUA e na Europa? No ocidente eles são chamados de romances M/M. No Japão são publicados pela Monochrome Romance bunko da editora Shinshokan.”
Esses romances estavam restritos a um mercado de nicho até 2008. Mais ou menos nessa época, esse mercado cresceu e amadureceu. Hoje em dia, mesmo no Japão, livros de grandes editoras estrangeiras como a Penguin Group podem ser encontrados com facilidade.
Os Romances eróticos ‘escritos (majoritariamente) por e para mulheres’ dos autores estrangeiros têm a característica de tocar em questões LGBT+ da vida real.
Enquanto por um lado são material de entretenimento, por outro existe essa tendência de falar sobre problemas e questões sociais como homofobia, discriminação ou HIV/Aids.”
EUA
Como os EUA já tinham uma cultura de fanworks focados em casais M/M da TV, filmes, etc, conhecida como “Slash”, o BL (chamado “yaoi” pelos fãs estrangeiros. Diferentemente do Japão a palavra “yaoi” também é usada para descrever obras originais) não demorou muito para criar raízes por lá.
Em 2012 uma editora especializada em BL, a “Yaoi Revolution” foi fundada, publicando muitas obras com um estilo ocidental bem particular: “maduro e másculo”.
Além disso, em comparação com o Japão, parece que a proporção de homens leitores de BL é muito maior! Aparentemente, nos EUA assim como no Japão, há seções dedicadas ao BL mesmo nas livrarias comuns. É perceptível a proximidade dos Boy’s Love no cotidiano.
Reino Unido
Como nos EUA, o Reino Unido tem uma cultura de fanworks focada em casais M/M da mídia mainstream (TV, filmes, quadrinhos), então a introdução da cultura BL por aqui aconteceu bem rápido. No entanto, romances M/M e quadrinhos BL raramente são vendidos em livrarias não-especializadas, e tenho a impressão que o BL ainda não é tão difundido e não chegou ao grande público.
Alemanha
Parece que a Alemanha foi o país da Europa onde o BL mais se popularizou! No entanto, há uma forte cultura de importação de mangás, e por isso menos de 10% dos quadrinhos vendidos no país são produzidos por autores locais.
Até meados dos anos 90, os quadrinhos americanos e franceses eram o mainstream na Alemanha, só depois disso o mangá desembarcou no país.
Estima-se que 70-80% dos leitores de mangás na Alemanha são mulheres e que cerca de 30% dos mangás vendidos na Alemanha são BL! No Japão, o BL representa apenas cerca de 10% dos quadrinhos publicados. Se pensarmos bem, 1 em cada 3 leitores de mangá na Alemanha é fujoshi… podemos concluir que é um cenário incrível!
França
Embora o BL tenha se espalhado bastante e bem depressa na França, ele foi um dos últimos países da Europa onde o BL foi introduzido. Acredita-se que o principal motivo para essa velocidade de disseminação seja que o hábito de ler mangás teve suas raízes na leitura das bande dessinée e possivelmente também porque há muita liberdade sexual/amorosa por lá.
Nas livrarias, o BL é vendido junto aos mangás shoujo e placas indicativas Yaoi/Shoujo são bem comuns.
Nova Zelândia
Eu tive uma grande surpresa! Na Biblioteca Nacional da Nova Zelândia é possível encontrar mangás BL! *risos*
Coreia do Sul
Na Coreia há algumas restrições bem severas sobre as expressões artísticas, mas mesmo assim há uma vasta produção de mídia BL por lá, como webtoons, drama, filmes, etc! Mesmo no Japão você encontra manhwas coreanos traduzidos e publicados como BL comercial.
Há mais censura e edições do que no Japão mas, como no Japão, o BL é vendido normalmente no país, então eu poderia até morar na Coreia!… fiquei muito aliviada por isso. Minha impressão é que os BL coreanos têm uma atmosfera platônica e histórias que aquecem o coração lentamente.
China
Na China tanto os fanworks quanto as obras originais estão se multiplicando. A novel BL que causou um enorme BOOM virou live-action e foi traduzida e publicada em outros países (aqui a autora se refere a Mo Dao Zu Shi)!
No entanto, na China há muitas regras sobre material impresso, então parece que publicar livros físicos é bastante complicado.
Por causa disso as novels, mangás e até drama CDs BL são distribuídos principalmente na internet! Mesmo na publicação online existem regulamentações muitíssimos severas nas cenas de amor, mas parece que os drama CDs têm umas cenas bastante sugestivas…!?
Os chineses produzem muitas obras longas e profundas, gostaria de ver mais delas publicadas no Japão.
Tailândia
Todos têm comentando o quanto o “buraco” dos doramas BL da Tailândia é incrível! Mas parece que esses dramas originais só chegaram nesse ponto devido aos esforços dos fãs em criar e disseminar uma cultura de BLs originais. Isto é, primeiro os fanworks baseados nos animes e mangás japoneses se espalharam, então os BLs originais surgiram e criaram raízes, dando origem à cultura de doramas.
Saindo um pouco do assunto, parece que o fanservice dos atores tailandeses também é absurdo! Aparentemente, já chegaram até mesmo a realizar uma cerimônia de casamento em um evento para fãs. Esse tratamento divino, que seria impensável no Japão, está além da minha compreensão. Mas com os produtores indo tão longe assim por eles, os fãs certamente são sortudos.
Dubai
Aparentemente, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos – onde foi realizado o MEFCC 2016 (Middle East Film and Comic Con) – também é um país alcançado pelo BL! Por ser um lugar com muitos mulçumanos, devido a questões religiosas os fãs de BL não podem ser muito abertos sobre isso, mas eles existem e aparentemente não são poucos…
Obras derivadas são o mainstream por lá, mas não apenas as de shounens famosos da Jump, mas os de Touken Ranbu, Durarara!!, Utapri, e até mesmo Idolish7 são bastante conhecidos… É uma surpresa saber que o conteúdo do Japão está se espalhando até mesmo por Dubai!
Mesmo com publicações físicas restritas, muitos jovens lêem as obras através da internet. Os fãs de BL no país parecem ser bem apaixonados, então fico na expectativa para ver como será daqui para frente! “
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Após ver essas informações sobre a situação do BL em vários lugar do mundo, pode ser óbvio, mas pude perceber claramente o quanto a forma que os mangás, novels e obras derivadas BL se enraízam está fortemente ligada à cultura, religião e valores de cada país.
De acordo com a Professora Yukari Fujimoto, da Faculdade de Estudos Japoneses Internacionais, da Universidade Meiji, a cultura chamada “BL” se enraizou amplamente no Japão, e parece estar começando a ser aceita pela sociedade em geral. No entanto, questiona se o motivo de tal gênero – tão diversificado – existir no Japão, não estaria na relação tênue do país com as filosofias religiosas.
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