Ainda preciso me beliscar para ter certeza de que a animação de Doukyuusei realmente aconteceu.
Por mais que digam que as fujoshis estejam conquistando o mercado de anime – e nosso dinheiro realmente está mudando as coisas por lá – quando se trata de animes BL a situação não mudou muito. Só os maiores e duradouros sucessos de vendas tem alguma chance de receber uma adaptação para TV. Quando se trata de um OVA, apenas uma pequena parte do mangá é adaptada, e cortam as cenas de sexo ou simplesmente não dá certo (estou olhando pra você OVA de Tight Rope).
Temos um anime BL cada dois anos pelo menos, o que é muito pouco quando se lembra que saem mais de 200 animes por ano no Japão. É mais fácil ler somente o mangá e sonhar com um Drama CD.
Doukyuusei é o primeiro filme animado BL para os cinemas que não foi resultado de uma série de TV. Baseado no mangá homônimo de Nakamura Asumiko, estreou nos cinemas japoneses em fevereiro de 2016. Após Doukyuusei foi lançada a continuação Sotsugyousei, O.B., e Dousoukai, e o spin-off Sora to Hara. No entanto, pode ser lido como uma obra única.
Rihito Sajou é um estudante exemplar que tirou as melhores notas no exame de entrada do ensino médio. Hikaru Kusakabe toca guitarra numa banda que se apresenta em casas de show e é popular com as garotas. Dois garotos cujos caminhos nunca se cruzaram, até que um dia Hikaru oferece ajuda para Rihito nos ensaios para a apresentação do coral da escola.
Eles sempre se encontram após a escola, conversam enquanto estudam as vozes um do outro, até que Kusakabe percebe que está cada vez curioso em conhecer mais sobre Sajou. Ele é o melhor aluno da escola e parece ter uma afinidade curiosa com o professor deles… Kusakabe suspeita dos sentimentos de Sajou pelo professor ao mesmo tempo que se dá contra dos seus próprios.
Doukyuusei é uma doce história de amor entre estudantes com personalidades opostas. O namoro dos dois começa devagar, com ambos tateando com cuidado para não colidir com o jeito do outro. Rihito no início pensa que os sentimentos de Hikaru são passageiros e ele teme que o outro ganhe interesse por alguma outra garota.
O filme é dividido em pequenas partes. A primeira é o início do relacionamento de Rihito e Hikaru, o dia a dia de ambos até a apresentação do coral e o namoro deles. Após isso temos a preocupação dos estudantes com o futuro – deles, do relacionamento, de tudo – após o ensino médio.
Para quem já leu alguns mangás BL, Doukyuusei não tem nada de novo por assim dizer. É uma história comum dentro do gênero e existem dezenos de outros mangás que seguem o mesmo estilo. Então o que há de diferente desse anime?
A diferença é que provavelmente é que Doukyuusei deve ser o melhor anime BL dessa década.
A animação já impressiona pelo visual. Os cenários em aquarela e toda a arte de Chieko Nakamura (Mawaru Penguindrum, Shoujo Kakumei Utena) formam algo inesquecível e que combinar muito bem com a arte da Nakamura Asumiko.
Já a animação propriamente dita também é um deleite aos olhos. Alternando entre momentos que usam menos quadros para dar um aspecto mais de mangá – eu não sei explicar esses termos, desculpaaa – e uma animação fluída dão um toque delicado ou divertido as cenas quando precisam. Não que o anime tenha tido um grande orçamento ou algo do tipo – há vários momentos que os personagens só estão parados conversando ou com uma voz em off enquanto a paisagem é mostrada na tela.
A cena de Hikaru e Rihito no parquinho me deixou de boca aberta com a qualidade, aliás. Foi minha cena favorita 😉
Talvez o menos impressionante tenha sido a direção do filme, que seguiu muitos dos recursos comuns dos animes BL. Como quando o professor tira os óculos de Sajou e a tela corta para pequenos retângulos verticais enquanto a voz dos dois continua na cena. Esse mesmo recurso foi usado em momentos chaves da primeira temporada de Junjou Romantica.
No entanto, nada no filme soa apressado ou impaciente. Em uma hora de filme, a história do primeiro volume do mangá consegue fluir muito bem e com toda a calma necessária para criar um sentimento de slice of life.
A dublagem é um dos pontos altos, com Kamiya Hiroshi dublando Hikaru Kusakabe e Kenji Nojima dando voz a Sajou Rihito. Os mesmos dubladores dos Drama CDs. Sou um pouco suspeita para comentar isso porque sou uma grande fã do trabalho do Kamiya, mas acredito que ele fez um ótimo trabalho dublando o adolescente rebelde. Os pequenos escândalos que ele fazia ou as conversas arrastadas com o professor são divertidíssimas.
E o mais importante – apesar de ser triste eu precisar citar isso como um ponto positivo do filme – é a total ausência de estupro. NÃO TEM. O namoro dos dois desenvolve-se num ritmo normal para adolescentes de verdade, com Kusakabe pensando em sexo depois de meses, quando sente que ambos estão ficando mais íntimos.
(mas no mangá aparece coisa bem problemática envolvendo um outro casal mais frente que não é citado no filme)
Felizmente, o filme foi um sucesso de bilheteria no Japão e isso é um ótimo sinal para o futuro do BL. A chance de vermos mais adaptações como enche meu coração fujoshi de alegria e esperança.
A lição que espero que fique depois de doukyuusei é de que as animações BL podem sonhar mais alto.
Mesmo sendo um nicho de mercado, o sucesso desse filme prova que existem espaços parar criar trabalhos dignos da qualidade que esse anime recebeu. Com certeza fica a esperança de vermos mais obrar como esse anime no futuro.
Eu amei o filme!!! Achei bem fiel ao mangá (o que é uma raridade, né?).
Torço pra que haja mais animes assim ano que vem (Super Lovers já me surpreendeu o bastante esse ano).
Bom dia. Onde posso assistir legendado?
Vai ter o 2? Achei bem vago o final…
Oi Nathasha!
Não temos notícias de uma continuação do filme ainda, mas você pode continuar lendo o mangá que vai bem além do que é retratado no anime 🙂