Estamos na semana do Dia Nacional do Yaoi, então acho que um artigo assim cai bem. Fiz algumas pesquisas e encontrei ainda mais do que eu sabia, então espero que seja válido dividir com vocês um pouquinho disso. Vou comentar dois aspectos básicos e históricos, Yaro-Kabuki e Shudo/Wakashudo;
Yaro-Kabuki
Uma das tradições mais antigas e conhecidas no Japão é o teatro Kabuki, prática de entretenimento desde o início do século XVII, onde belas e jovens damas encenavam, cantavam e dançavam diversos temas da vida cotidiana. Inicialmente houve apenas uma companhia fazendo o tal ‘novo espetáculo’ da época, mas logo chegou a concorrência e ainda posteriormente, a dita degradação, quando muitas das atrizes do Kabuki também passaram prestavam outros ‘serviços’, especialmente no bairro conhecido pelas casas de prostituição da época, Ukiyo. Não demorou muito para que, em contrapartida ao espetáculo só de mulheres ( Onna-Kabuki ), jovens rapazes também se interessassem em ter seus próprios grupos ( Wakashuu-Kabuki ), mas também se prostituiam e a situação era cada vez mais degradante até que o governo da época ( Tokugawa Bakufu, Ieyasu Tokugawa ) baniu ambos pela veia demasiado erótica que os shows passaram a ter e pela quantidade de atores envolvidos com prostituição ( ambos os gêneros ).
“Ok, então com isso, fim do Kabuki…?”, ainda bem que não, caro leitor! Seria ruim demais se uma tradição tão interessante se perdesse por conta de um pequeno… Probleminha, não? Dái originou-se o Yaro-Kabuki, um estilo de apresentação performática onde não existem mulheres nem rapazes muito jovens, mas sim homens adultos. Os rapazes mais novos ainda estavam presentes, mas não como todo o elenco, mas geralmente com os papéis femininos, Onnagata. Mas o espetáculo foi seguindo para o mesmo caminho dos anteriores e cada vez mais pesado… Até que o governo baniu papéis de personagens femininos e de rapazes jovens, deixando todos os personagens somente como ‘homens adultos’ e assim continuou, com certas casas respeitando as leis e outras na encolha continuando com suas atividades ilegais, mas o fato é que realmente, com a legislação e o passar do tempo, a prática entrou no eixo e, resumindo MUITO, hoje em dia é uma das maiores manifestações da cultura japonesa. Alguns grupos já aceitam mulheres para os papéis femininos, mas o Kabuki mais tradicional e cru possui apenas atores homens, assim como o teatro Takarazuka só possui mulheres no elenco ( mas isso já é conversa para outro artigo! ).
Wakashudo
Ainda tratando do Bakufu/Sengoku Jidai, a era dos Samurais, anterior à restauração Meiji, vamos falar um pouco sobre as relações homossexuais entre os guerreiros. Muita gente pode estar lendo isso com um “WTF?” em mente, mas isso era algo até corriqueiro. Um guerreiro mais velho e experiente aceitava ter um aprendiz das técnicas, etiqueta e bushi-do ( código de honra, políticas/normas etc ) consigo até a fase adulta deste, assim mantendo um vínculo de muitos anos. Não necessariamente eram amantes caso não fosse da vontade do guerreiro mais experiente, mas também não havia nenhum tipo de tabu quanto a isso, de fato o aprendiz estava sujeito a praticamente qualquer tipo de coisa quando selava o “contrato de irmandade” com seu mestre e, por muitas vezes, funcionavam como válvulas de escape para dissipar o stress dos guerreiros mais velhos, sem direito a reclamações ou negar tal ato, às vezes até literalmente rezando para que seu superior se satisfizesse o quanto antes, nem todo aprendiz estava de acordo com essas práticas. As relações com mulheres estavam liberadas para ambos e, ao completar o treinamento e alcançar a maturidade, o vínculo estava desfeito e ambos estavam livres para ter novos aprendizes para si ou ter alguma relação hetero-afetiva qualquer.
Acreditava-se também que a mulher por si roubava a energia ( ki e kime ) do guerreiro, então era altamente desaconcelhável manter relações sexuais com prostitutas mulheres ou mesmo com esposas, então uma vez mais quem tinha o famigerado aprendiz satisfazia suas ‘necessidades’ com o garoto, assim não teria suas forças diminuidas nas batalhas adiante. Bom, quem não tinha aprendiz podia recorrer aos vários prostíbulos onde jovens rapazes também se prostituíam na época, ou mesmo certos atores do Wakashuu-Kabuki que também ofereciam tais serviços.
Início da Era Meiji
Com a abertura dos portos japoneses aos americanos comandada pelo Comodoro Perry em 1853, resultando assim na queda do Shogunato e início da Era Meiji, consequentemente houve a extinção da classe de Samurais, agora ( teoricamente ) não mais necessários com o fim do período das guerras civis. O teatro Kabuki foi suspenso independente de seu teor ou atividades, uma enxurrada de novos costumes extrangeiros passaram a fazer parte do cotidiano japonês, fosse na culinária, vestimenta ou mesmo como se fazia a guerra, com a maior distribuição de armas de fogo sobrepondo-se às antigas espadas e novas classes sociais. Com o tempo, o que era comum passou a ser tabu e o que era tabu gradualmente era liberado.
Antes, a comum prática homossexual entre guerreiros e nobres-jovens rapazes ( prostitutos ou não ) ficou cada vez mais vista com maus olhos até que tornou-se algo em escala reduzida quase que em absoluto. Grandes guerreiros do Sengoku tinham relações entre si, Daimyos, políticos até que, com a, praticamente, revolução cultural, cada vez mais via-se isso da mesma forma que o ocidente enxergava na época.
Adorei o texto. Eu li um pouco sobre o teatro Kabuki por conta de minha monografia (creio que terei de falar um pouco sobre), mas essa dos samurais eu não sabia… Muito interessante. =)
My recent post Dia Nacional do Yaoi: Garota-vela
Gostei muito dessa aula de cultura japonesa. Já tinha lido sobre o teatro Kabuki e da relação entre os samurais, mas não sobre a evolução do teatro em si. Interessante. Boa matéria e bem escrito. Parabéns Imanov. 🙂
É sempre muito bom saber mais sobre a cultura de outros países! Também adoro quando vocês publicam sobre tais ''curiosidades''! são ótimos artigos! <3
Quanto a parte dos samurais eu não fazia ideia dos costumes e tabus, mas foi muito interessante e assim como o do teatro. Ótimo post com certeza, quem diria que o fim dos costumes seria por causa do ocidente. 🙂
Acho que a Imanov se saiu muito bem com este artigo, ficou informativo, leve e bem humorado. =)
Realmente interessante o texto, é incrivel ver como o machismo e mesmo a misoginia que nos dias atuais são truculentos com os homossexuais, foi dum passado não muito remoto até a antiguidade um fator que corroborava com a pratica homossexual. Parabéns Tanko ^ – ^