Há algum tempo atrás, me foi recomendada a leitura do manhwa (mangá coreano) “One Thousand and one Nights“. Infelizmente, na época, não havia scans de todos os volumes e acabei abandonando a história no meio.
Fiquei muito grata de ter lembrado e insistido em retomar a leitura esses dias, caso contrário teria perdido um excelente quadrinho, acredito que um dos melhores que já li.
A história original de Sheherazade, a esperta filha do vizir, que conseguiu livrar-se da morte contando histórias para o tirânico sultão, não deve ser novidade para a maioria de vocês. No entanto, este manhwa faz uma surpreendente releitura boy`s love da tradicional compilação de histórias orientais.
Assim como no original, temos um sultão cruel, Shahryar, que a cada noite manda buscar uma moça do reino apenas para desvirginá-la e matá-la no dia seguinte. Sabendo do hábito do sultão e temendo pela vida de sua irmã Dunya, o inteligente e andrógino Sehara se disfarça de mulher e é levado para o harém em seu lugar.
Claro que Shahryar não fica nada feliz em saber que foi ludibriado, e por isso manda Sehara para a masmorra, onde seria decapitado ao amanhecer. Na cela, Sehara conhece Jafar, um nobre que foi preso por se recusar a servir ao déspota que assassinava garotas inocentes. Jafar havia sido amigo pessoal do sultão e conta a Sehara o motivo do seu atual estado de loucura e crueldade: a traição de Fátima, sua esposa.
Quando Shahryar chega para cumprir a sentença de morte de ambos os prisioneiros, Sehara aceita o seu destino, mas pede para contra-lhe uma história. Munido do conhecimento sobre a vida do sultão, Sehara escolhe um conto capaz de fazê-lo refletir, mesmo que brevemente, sobre seus atos. Assim Sehara consegue viver mais um dia (e Jafar também).
Em uma olhada rápida nessa sinopse, pode parecer que esta é mais uma daquelas histórias onde apenas o gênero da princesa é trocado, onde o protagonista com síndrome de Estocolmo se apaixona por seu raptor, ou onde todos os personagens de todos os contos (eróticos) são gays.
Mas One Thousand and one Nights não é nada disso. É uma jornada de transformação e de um relacionamento construído de forma sincera, gradual, escrito por um autor que definitivamente sabe o que é uma boa história.
Sehara está disposto a restaurar a sanidade de Shahryar não por amá-lo à primeira vista, ou apenas para salvar-se e à irmã, mas por acreditar que ele ainda pode voltar a ser um governante justo e forte, especialmente em um momento tão conturbado para o reino em que um ataque dos cavaleiros cruzados parece estar prestes a acontecer.
One Thousand and One Nights foi escrito por Jeon JinSeok e desenhado por Han SeungHee, no ano de 2004 e tem ao todo 11 volumes. Também foi publicado nos EUA, pela YenPress.
O desenho de Han SeungHee é um show à parte. Não apenas os personagens são belíssimos, como todos os cenários, objetos e roupas são incrivelmente detalhados, o que acredito ser fruto de uma pesquisa muito bem feita ou de uma imaginação fantástica.
A narrativa de Jeon JinSeok, por sua vez, é intensa e criativa, composta por camadas de simbolismo, fantasia e “realidade” que vão se entremeando de forma muito inteligente. Foi sua primeira história para mulheres e pelo visto ele se saiu muito bem.
No início, eu achei que seria difícil gostar de um personagem como o sultão (apesar dele ser lindo, vamos combinar). Mas, felizmente, a história não nos engana colocando panos quentes de “não foi bem assim”. Shahryar matou sim aquelas mulheres inocentes, há explicação para isso, mas não desculpas baratas ou que coloquem a culpa nas vítimas. Este fato dá ainda mais peso à sua transformação e às cenas onde ele precisa encarar as consequências de seus atos bem de frente.
A relação entre Sehara e Shahryar é muito cativante e tão movimentada quanto as histórias contadas a cada volume, pois diferentemente do original, o cenário não se limita ao quarto do harém. Conforme o violento e traumático passado do sultão vai sendo revelado, subtramas políticas começam a se desenrolar; afinal, um homem tão poderoso e cruel, não poderia ser bem visto por todos.
Se tenho alguma ressalva a fazer sobre este mangá é a de que, apesar de ter cenas lindas e cheias de significado entre os protagonistas, eu ainda gostaria de vê-los interagir mais (não necessariamente de forma sexual, ok? =B).
Por isso confesso que algumas vezes senti que as histórias de Sehara “atrapalharam” um pouco o ritmo da leitura, pois estava curiosa para saber o que lhe aconteceria. Mas, quando começava a ler e me envolvia com o conto, percebia que ele não era chato e muito menos gratuito. Algumas destas histórias até me chocaram pela ousadia. Tanto que não vou dizer o motivo, pois não quero estragar a experiência de vocês.
Para concluir, eu recomendo fortemente One Thousand and One Nights. É um quadrinho brilhante, sólido, que só melhora a cada volume e dá vontade de reler assim que se termina. Acho que este trabalho deveria ser conhecido por todos os que gostam de BL e até pelos que não gostam muito por achar que o gênero peca pelo excesso de fanservice e pela falta de história.
Leiam e não se arrependerão em mergulhar nos fantásticos e envolventes contos de Sehara, capazes de fazer Shahryar amar novamente… e que vão fazer vocês descobrirem coisas novas para se amar em um BL.
Que bom que pode lê-lo todo, eu adorei esse manhwa. Os personagens secundários também são interessantes. E, gostei da resenha, nos faz querer ler de qualquer jeito essa estória. 🙂
É sempre bom variar a leitura BL, ou seja, se aventurar nos BLs coreano e chinês. Podemos nos surpreender.
Como também sair desse gênero, geralmente leio mangá seinen e sempre imagino cenas hots com os protagonistas masculinos. Estou lendo um mangá seinen chamado Until Death Do Us Part, ele tem muitos personagens masculinos e já viu… a mente pervertida nunca descansa, principalmente com Mamoru Hijikata, um habilidoso espadachim cego, hehe!! Daria um bom BL. 😀
Eu gostei muitíssimo, acho pena não ter mais mangás deles em um idioma que eu entenda (li que os autores são casados). Quero ver se um dia eu consigo comprar todos os volumes…
Qual BL coreano você recomenda? O povo gosta bastante de Let Dai.
Ameei Let dai. Causou uma debate sobre o final da estória. Alguns acharam-no triste outros não.
Eu li ano passado um manhwa chamado Happy ending de LEE Kyung Ha, eu achei a estória bem simples mas cativante e estou me programando para ler Crush on You dela. A estória consiste em um triangulo amoroso: uma garota e dois rapazes. Está listado como shounen-ai e outros gêneros.
Temos Totally Captivated de YOO Ha jin, esse deve ser conhecido da maioria das fãs-yaoi de plantão, pois fez muito sucesso. 🙂
The summit de LEE Young Hee, mas está em hiato e licenciado.
Pure – Dakkang (nome dela ou dele na publicação coreana). Nome verdadeiro HA Sung-Hyun. Ela/ele lançou um mangá chamado Itazura Neko ni Goyoujin como Bellu.
U Don't Know Me de NA Yeri. É um dj.
Kiss Me Princess de KIM Se-Young.
Running on Empty de KIM Jea-Eun. Essa autora faleceu em 2011.
Love recycle e Mind flow, nome doujinka: S-Kun.
Apesar desses titulos todos, nenhum alcança a beleza e o drama de One Thousand and one Nights, talvez com a exceção de Let dai. 🙂
Tanko-san onde vc leu, ou baixou? Pq eu não consigo achar todos os volumes ;-;
Eu costumo ler quase tudo no mangatraders, em inglês.
existe algum site para baixar ou ler online em portugues?