Okite Saisho ni Suru Koto wa
Classificação: 🍋🍋🍋🍋
Uma das coisas mais fascinantes para mim na leitura de mangás são autores que conseguem navegar por mais de uma demografia. Um dos casos que mais me surpreendeu quando mais jovem foi o da Sakurako Gokurakuin, que fez um mangá BL como Sensitive Pornograph e alcançou maior sucesso com Sekirei, mangá seinen com muitas doses de ecchi.
Um caso mais recente que descobri foi da autora Gido Amagakure, que conheci graças ao anime de seu mangá seinen Amaama to Inazuma. Tive uma surpresa agradável ao saber que a autora também havia produzido BL, como Seinen Hakkaten, GL (Shuuden ni wa Kaeshimasu) e também shoujo (Fantasm).
Eu acho tais autores incríveis porque, no geral, eles conseguem produzir histórias muito interessantes em cada demografia que se propõem a explorar. Foi através de uma obra não-BL também que eu descobri uma das minhas autoras favoritas e fui surpresa de forma positiva ao descobrir que ela também fez BL.
Conheci o trabalho de Shimura Takako através de duas de suas obras mais populares, Hourou Musuko e Aoi Hana, dois mangás que abordavam temática LGBT e que foram posteriormente adaptados para animações.
Além dessas duas obras mais populares, Shimura Takako também tem uma vasta obra de mangás que tem personagens LGBT presentes e como protagonistas. Um desses é o mangá Dounika Naru Hibi que terá adaptação em filme animado.
Além dele, ela possui mangás que não são exatamente BL’s ou GL’s mas que retratam relacionamentos LGBT, como o caso do seu mangá Musume no Iede e Otona ni Nattemo.
Além disso, ela publicou dois mangás BL’s serializados na Magazine Be x Boy: Sayonara, Otokonoko e Okite Saisho ni Suru Koto wa.
Em 2013, a autora participou de uma antologia de histórias Boys Love chamada Fubin BL com autoras como Haruko Kumota, Tsubaki Mikage, entre outras.
Foi nesse volume que foi publicado o primeiro capítulo do que seria compilado e vendido com o título de Okite Saisho ni Suru Koto wa. Primeiro eu tive contato com a obra como uma história de capítulo único e fui surpresa ao descobrir que ela publicou mais capítulos ao ponto de fechar um volume. E é esse interessante e curto volume único que eu quero explorar.
AVISO: A história tem menções de incesto, linguagem homofóbica, coerção e estupro.
Okite Saisho ni Suru Koto wa conta a história de dois irmãos adotivos que se conhecem graças ao casamento de seus pais quando ambos estavam no ensino fundamental.
Com dois anos de diferença, os novos irmãos se davam bem inicialmente, com o mais novo, Natsuo, animado com a ideia de ter um irmão. Contudo, o mais velho, Kimi, é gay e é descoberto pelo mais novo em uma posição….comprometedora com o cara que ele estava ficando. A partir daí a relação dos dois irmãos se corrói de maneira veloz, com o irmão mais novo espalhando pela escola que o irmão mais velho é gay e o irmão mais velho desistindo do ensino médio, enquanto ainda continua apaixonado pelo irmão adotivo mais novo.
A história dá muita raiva de ler em diversos momentos. Especialmente pelo irmão mais novo, Natsuo. Ao descobrir que o irmão mais velho é gay e transa com outros homens, ele age como se tivesse sido traído pelo seu irmão mais velho legal e o trata feito um lixo, disparando insultos contra seu irmão. Isso é explorado ao longo dos capítulos e mostra que o irmão mais novo já possuía algum sentimento pelo outro antes, mas provavelmente estava em negação e o choque do irmão ser gay ao ponto de transar com outros homens o levou a um estado de ódio e homofobia total contra o irmão nos anos seguintes.
Do outro lado, o irmão mais velho Kimi não vê nenhum problema no modo como seu irmão adotivo o trata. Ele acha que é culpado por ter feito Natsuo ter visto algo desagradável como dois homens transando e perdoa tudo, pois acha ele bonitinho e também patético por não conseguir expressar seus sentimentos. Ele se sente culpado por ter estragado a relação preciosa de irmãos que tinham antes, mas também não consegue evitar desejar o outro jovem.
Esse mangá para mim é a uma ótima história para entender mais ou menos os mangás da Shimura Takako. Ela escreve histórias sobre como pessoas são estranhas e complexas e coisas inusitadas acontecem com elas no seu cotidiano. Ao ler a premissa do mangá pode parecer só “Nossa, putaria de irmãos!!1111!!!” e eu consigo entender porque alguém acharia isso. Mas eu acho o mangá muito interessante pois mostra a relação de duas pessoas que se gostam e que se distorce e distorce até que torna-se algo nocivo pois as duas partes estão se machucando.
Isso também não é para ficar parecendo “Nossa, esse mangá é tão cult e sério.” Não, é um volume único com história bem simples e entendo porque alguém também acharia muito tosca a premissa e execução. Pessoalmente eu achei muito interessante para ver como uma autora que cria histórias tão bacanas sobre personagens diversos e complexos, sejam LGBT ou não, desenvolveria uma história com uma premissa aparentemente tão simples e até mesmo estereotipada.
O mangá é muito desconfortável de ler em diversos momentos. Natsuo é absolutamente desprezível com seu irmão adotivo e acha que tem direito de trata-lo mal com insultos homofóbicos toda hora, a ponto de tentar tira-lo do armário para seus pais como um pervertido que gosta do irmão mais novo. Ao mesmo tempo, Kimi não esconde gostar de Natsuo e diversas vezes o coloca em situações desagradáveis sexualmente.
Mas é interessante ver que mesmo com toda essa bagagem, o desejo de Kimi e o ódio de Natsuo, os dois ainda se gostam muito e querem resolver a situação de algum modo. Também é muito engraçado ver o modo como os dois interagem quando voltam a se aproximar e começam a agir de novo como amigos e irmãos.
O mangá é muito divertido de ler para ver o relacionamento dos dois se desenvolvendo. É um relacionamento muito imaturo que começa das piores maneiras possíveis, mas que acaba sendo muito interessante de ler sobre. Quem quiser umas duzentas páginas de BL simples com personagens meio complicadinhos e bacanas de se acompanhar, recomendo demais.
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