Entrevista: Mushiba (Kono BL ga Yabai! 2021)
Essa é a terceira de uma série de entrevistas publicadas na revista Kono BL ga Yabai! 2021 que serão traduzidas e iremos publicar aqui no site.
A terceira entrevistada será a Mushiba, autora do interessante e divertidíssimo Fall of an Immortal. Esse BL chegou tanto ao sexto lugar Kono BL Ga Yabai e também apareceu no ranking de vencedores do Chil Chil Bl Awards. A obra está disponível em inglês na futekiya.
O Blyme já divulgou o TOP 20 de 2021 nesse link.
-Um personagem totalmente único e um desenvolvimento imprevisível. Conte-nos como surgiu a ideia para “Fujimi no Meinichi” (Fall of an Immortal).
Eu queria desenhar um seme fora da lei e um uke rico de status social elevado. Estava pensando no quanto “a combinação entre uma pessoa estranha e uma pessoa comum é ótima”, mas, no final, os dois acabaram sendo pessoas estranhas (risos).
-É verdade (risos). Na cinta do mangá está escrito “Um uke que quer ser um super semezão”. Conte-nos como foi o processo até a finalização da personalidade do Tohma.
Não foi algo tipo “quero desenhar um BL de um ponto de vista inovador, transformando um super semezão em uke!”, e sim por eu adorar um “uke estilo super semezão”. Daqueles altos, populares e ricos. Mas personagens com essas características vivem sendo chamados de “semezão”. Então eu desenhei com um sentimento de “cara, eu realmente sou louca por esse tipo de uke!”.
-A criação desse semezão, Tohma, foi um processo tranquilo?
Não, foi difícil pra caramba. Primeiro porque eu não sei como as pessoas ricas vivem (risos). Tipo, o que ele deveria comer para parecer rico…? Mesmo gostando e achando moe, na hora de desenhar mesmo eu fiquei: “não sei, não faço ideia!”, só quebrando a cabeça.
-(Risos). Por outro lado, Fujimiya, o “Fujimi”, também é um personagem nada convencional. Incapaz de encontrar prazer nas coisas, somente em brigas, ele é um seme cujas palavras e ações são totalmente imprevisíveis. De onde veio a inspiração para criar esse personagem?
-Eu desenhei o Fujimi com o sentimento de “vou desenhar o tipo de homem que eu acho mais maneiro!”. Eu gosto de pessoas estranhas, e gosto do fato de gostar de pessoas estranhas. Além disso, eu tenho uma admiração por pessoas que conseguem decidir as coisas de acordo com suas próprias regras.
-Entendo.
Eu desenhei o Fujimi pensando: “como entrar em acordo quando você não consegue resolver algo sozinho?”. Tohma diz, em um monólogo, que Fujimi é alguém “sem consciência, sem malícia, que está apenas vivendo”. Mas, pessoalmente, acredito que o ser humano e a Terra originalmente não são nem bons nem maus, apenas existem. Tipo, “Putz, como a vida é cruel!”.
-No dia que os dois se conheceram, Fujimi pula de um arranha-céu carregando Tohma, enquanto canta uma música do “Southern All Stars”. Essa cena me pegou totalmente de surpresa. Você já havia planejado essa cena desde o começo?
Não, até começar a serialização eu não tinha decidido perfeitamente o fluxo da história. Depois de desenhar o primeiro capítulo, desenhei o segundo… e assim sucessivamente. Eu queria fazer algo chamativo no primeiro capítulo e, depois de pensar muito, até quase enlouquecer, foi esse o resultado.
-Então foi assim? A propósito, a letra da música foi expressa só com “Lalala”, mas era Katte ni Sinbad?
Na verdade, eu fiz pensando em “Tsunami”. A parte do verso, no início da canção (risos). Os leitores também enviaram vários palpites, como “Itoshii no Ellie”, “Manatsu no Kajitsu” ou “Minna no Uta”. “Tsunami”, na verdade, foi até minoria.
-Entendo! Teve alguma outra cena que foi marcante de desenhar?
Foi divertido desenhar a cena da retrospectiva, de quando o Fujimi ficou fraco por causa de um resfriado. Eu acho semes à beira da morte tão descolados! Então foi divertido desenhar essa cena.
As outras opções de títulos: “Nihon Ichi Hatsukoi (O melhor primeiro amor do Japão)” e “Zettai Sekai Hakai Renai (Um romance que definitivamente destruirá o mundo)”
-Gostaríamos de perguntar sobre esse título tão único. Conte-nos qual foi o pano de fundo por trás da escolha do título.
Eu decidi o título sem fazer a mínima ideia se conseguiria criar um desenvolvimento que fizesse jus a ele no final. Ainda bem que, no final das contas, eu consegui conectá-lo com O término da história principal. Foi uma aposta super arriscada……. Na verdade, o primeiro título que pensei foi “Nihon Ichi Hatsukoi” (O melhor primeiro amor do Japão).
-Quê?!
Mas, depois de repensar, os dois títulos que cogitei foram “Fujimi no Meinichi” (Fall of an Immortal) e “Zettai Sekai Hakai Renai” (Um romance que definitivamente destruirá o mundo), rimando tudo (risos).
-Parece um rap japonês (risos). Esse também é um título moderno e divertido.
Esse acabou ficando como segunda opção, e no final decidi por “Fujimi no Meinichi” mesmo.
-Entendi. Nessa obra, pude sentir a coexistência da dor do romance com a comédia e as piadas. Não foi difícil encontrar o balanço entre as duas coisas?
Deixando de lado o fato de ter ou não saído desse jeito, particularmente eu não sinto nem um pouco como se estivesse desenhando piadas. De fato, eu faço algumas representações com linhas de ação e onomatopeias que parecem piada, mas os personagens em si não estão tentando fazer os leitores rirem, e sim apenas interagindo, de forma séria. Eu desenhei pensando nisso, então não tive preocupações com balanceamento.
Obsessão pelo mamilo do Tohma: Macio, Lisinho e Brilhante
-Conte-nos quais detalhes você se ateve nas cenas picantes. Foi difícil fazer duas pessoas, que não têm absolutamente nada em comum na vida, ter relações sexuais?
Sinceramente, no começo eu pensava “será que esses dois vão dar certo?”. Mas, no final, Fujimi amou o Tohma como se fosse a tampa da sua panela. Sobre as cenas eróticas, eu estava desenhando desesperadamente, então não sei se consegui chegar ao ponto de me ater a detalhes. Eu não desenho tão bem assim, e desenhar corpos humanos é difícil. No entanto, eu quis fazer o mamilo do Tohma super macio, lisinho e brilhante.
-Realmente, foi um belo peito (risos). Como foi a repercussão entre os leitores diante da sua tentativa de fazer um “uke super semezão”?
Eu diria que provavelmente há uma demanda para “ukes estilo super semezão”, ou pelo menos eu sentia que haveria pessoas que entenderiam isso, e acho que acertei. Por outro lado, o Fujimi é meu tipo preferido de “seme que parece que vai sumir pra sei lá onde”, mas me preocupei em como os outros veriam isso. Fiquei feliz por ter sido mais bem aceito do que imaginava.
-Sinto a individualidade da Mushiba nos personagens com um parafuso a menos e nas composições penetrantes. Conte-nos que tipo de obra você almeja, desenhando BL.
Quero que as pessoas se sintam bem lendo minhas obras. Acho que a vida real é difícil para todo mundo, então gostaria de poder desenhar mangás que permitissem um instante de descanso, para que então as pessoas possam voltar a seus cotidianos.
-Então o gênero BL seria efetivo para isso?
Eu mesma sou fã de BL, por isso quero desenhar BL (risos)
–Sem dúvida nenhuma, ler as suas obras nos faz sentir muito bem.
Muito obrigada. Fico feliz se for assim.
-Essa obra é o seu 4º tankobon. Sinto que suas obras anteriores, como “Tengoku in the Hell” tinham um clima bem definido. Mas, desenhando a obra atual, teve algum ponto que você acreditar ter mudado ou evoluído?
Eu também acho que ficou desse jeito a partir de “Tengoku”. Até minha segunda obra, “Kami-sama wa Tabun Hidarikiki” (God is Probably Left-Handed), eu desenhava com o sentimento de “quero amar os seres humanos!”, mas a partir de “Tengoku” eu acho que passei a desenhar já estando “apaixonada pelos seres humanos”!
-Acredito que essa alegria inata que exala de suas obras seja uma maravilhosa característica sua.
Fico feliz em ouvir isso. Eu, pessoalmente, me acho muito melancólica, então fico feliz se estiver transmitindo um sentimento de alegria (risos).
-Na obra atual, um vagabundo pula de um arranha-céu carregando um super semezão no colo. Em “Tengoku”, um sucubus tenta alcançar o topo como melhor garoto de programa. De onde vem essa criatividade infinita?
Pessoalmente, eu acho que não sou nem um pouco criativa. Mas, conforme os anos foram passando, eu comecei a sentir que o mundo é realmente tão cheio de coisas aleatórias… Então eu passei a pensar que o mundo dos mangás pode decolar ainda mais!
-Entendo.
No entanto, eu não tenho nenhuma intenção específica de fazer isso “intensamente”. Claro que eu fico muito feliz se os leitores puderem sorrir com a obra, mas também não costumo almejar isso deliberadamente. Basicamente, eu apenas desejo que as pessoas contemplem a aparência agradável dos personagens. Gostaria de poder fornecer esse tipo de entretenimento.
-Conte-nos as obras e autores que te influenciaram até hoje.
Eu sempre li mangás independente de gênero, mas principalmente lia muito mangá seinen. Sou especialmente uma grande fã do Yokusaru Shibata e amo seu mangá de shogi, “81 Diver”. Ao invés de ter sido influenciada, eu sou tão fã que tenho o desejo de ser influenciada por ele!
Eu também gosto muito da Natsume Ono. Gosto de “Danza” também, e foi o mangá “Kuma to Interi” – que ela desenhou sob o pseudônimo de basso – que me despertou a vontade de desenhar BL. Mesmo pensando: “quero fazer BLs como os da basso-sensei!” estou desenhando mangás completamente diferentes (risos).
-E além dos mangás?
No caso de filmes, eu gosto bastante de “Cold Fish”. O protagonista, interpretado por Mitsuru Fukikoshi, foi inigualável nos 20 minutos finais, e eu achei muito foda. Gostaria de desenhar esse tipo de seme.
-Continuando, você tem algum fraco por alguma tendência de dinâmica de casal ou um tipo de personagem que você goste muito?
Gosto de casais com diferença de altura. Ultimamente eu tenho desenhado só casais onde o uke é mais alto, mas eu gosto quando o seme é grandão e o uke é pequeno. Então eu tenho um moe por diferença de altura. Além disso… é realmente meu ponto fraco, mas eu tenho uma enorme queda por homens de cabelo cacheado. Quando aparece um, não tem mais jeito, eu me apaixono na hora.
-Por falar nisso, o Tohma também tem um cabelo meio cacheado. Isso vale tanto para ukes quanto para semes?
Sim, mas eu vivo fazendo isso com os ukes (risos).
-O que é o BL para Mushiba?
É entretenimento e alma. Algo indispensável para se viver neste mundo.
-Que poderoso. Conte-nos se há algum tema que você queira desenhar daqui para frente.
R: Para a próxima obra, quero muito desenhar algo com banda, e estou trabalhando nisso agora. Mesmo dizendo isso, talvez saia algo diferente do que normalmente se imagina ao pensar na temática de “banda”…. Ficaria feliz se isso estimulasse a sua imaginação. Temos planos de começar a publicação em março de 2021, na revista “.Bloom”
-Estamos ansiosos. Por último, poderia deixar uma mensagem aos leitores?
Eu não imaginava que seria uma das autoras a aparecer nesse tipo de revista, isso é graças aos leitores que votaram tanto. De verdade, muito obrigada. Acredito que tenha muitas pessoas que não me conhecem, então seria grata se lessem meu trabalho, caso tenham interesse. Espero, sinceramente, continuar desenhando BL daqui pra frente.
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