Aviso: esse artigo é NSFW e contém imagens explícitas de caráter sexual e não é recomendado para menores de 18 anos.

Existem muitos mal entendidos com relação a censura de conteúdo sexual em animes e quadrinhos BL, principalmente os de origem asiática, então na Yaoipedia de hoje vamos esclarecer essas dúvidas.

Praticamente todos os quadrinhos Boys Love publicados na Ásia possuem restrições com relação a retratação de cenas sexuais explícitas. Já virou uma piada entre fãs de BL sobre os pênis totalmente censurados apelidados de sabres de luz.

A principal razão para essa censura vem da relação que cada país possui com conteúdo considerado pornográfico ou obsceno. Além disso, essas questões também podem ser diferentes quando se trata de material físico ou digital. Por isso vamos separar o assunto por países, devido as particularidades de cada cenário.

Japão

Segundo o Artigo 175 do Código Penal, do Japão, a pessoa que vender ou distribuir conteúdo obsceno pode ser punido com uma multa ou pena de prisão. A questão é que a lei nunca especificou o que classificaria como “conteúdo obsceno” e o artigo foi inserido no documento original em 1907 e permanece relativamente inalterado desde então.

Sendo assim, o que seria “conteúdo obsceno” fica a cargo da interpretação de cada juiz baseado numa lei do início do século XX. Devido a essa situação que permite que o governo interfira quando achar conveniente, toda a indústria cultural japonesa aplica uma forma de autocensura como forma de evitar qualquer problema.

Como existem poucos precedentes sobre o que pode ou não cair nas garras da artigo 175, convencionou-se a censurar a presença de órgãos genitais (e durante muito tempo pelos pubianos também eram censurados ou simplesmente retirados) em qualquer tipo de cena.

Porém, como não existem regras claras, essa censura é realizada de maneiras diferentes dependendo da revista ou da editora. Segue a lista de formas de censurar pintos em obras japonesas:

A mais comum é cobrir a piroca inteira de branco.

Outras censuras ainda envolvem cobrir todo o membro, mas com “bolinhas”, que na verdade são as retículas.

Uma das censuras mais comuns é a de “riscar” o bilau de branco.

Tem os casos que o pinto simplesmente some e a única indicação de que ele está lá é alguma sombra escura bem leve ou uma linha de movimento.

Outra tipo de censura é quando o malaquias é coberto por bolinhas brancas.

E tem os casos que eu me pergunto se sequer dá para considerar como censura, quando colocam algumas tirinhas brancas/pretas por cima do bilau e todos os envolvidos juram que ninguém vai notar que é um pênis.

Inclusive a censura pode ser diferente dentro do mesmo mangá caso a edição seja física ou digital. Publicações digitais costumam censurar mais a rola dos personagens provavelmente para cumprir as regras das plataformas onde são vendidos ou para evitar a chance de serem classificados como material pornográfico.

Aliás, curiosamente, mangás BL não costumam ser classificados como material pornográfico, muito menos como adulto, devido a associação com mangás shoujo e a longa história de mangás para mulheres usarem uma linguagem visual própria para se referir a conteúdo sexual. Sendo assim, por ser comercializado como ‘women’s comics’, mesmo que o mangá BL tenha uma capa claramente erótica, você não precisa apresentar nenhum tipo de documento provando a maioridade no momento da compra.

Já os mangás BL que possuem de fato a etiqueta de Seinen (成年) (que significa ‘adulto’, não confundir com o termo Seinen (青年) da demografia Seinen) ou R-18… continuam tendo censura mesmo assim. Não tem pra onde fugir ¯\_(ツ)_/¯. No entanto, com o aumento dos mangás BL que usam elementos mais mainstream e clichês visuais retirados de mangás hentai, alguns argumentam que pode ser uma questão de tempo até esses mangás sofrerem algum tipo de regulamentação.

Algumas autoras de BL aplicam a sua forma de autocensura, como usar ângulos estratégicos para que o pênis não apareça ou colocam onomatopeias por cima do órgão.

No caso de animes e games, a censura mais comum é a de pixelar os órgãos genitais. No caso de animes BL, o risco das cenas simplesmente serem cortadas da adaptação é bem grande, mesmo que a obra seja exibida de madrugada ou vendida diretamente em DVD.

Certos animes colocam uma luz preta ou escura sobre o pênis dos personagens, como aconteceu em Junjou Romantica e Yarichin Bitch Club.

Em outros casos a cena é montada de uma forma que o órgão simplesmente não apareça, igual ocorreu no filme de Saezuru Tori wa Habatakanai.

China e Taiwan

Dos países listados aqui, a China possui as leis mais rígidas com relação a conteúdo erótico. A pornografia foi oficialmente proibida no país em 2002.

Apesar de não ser contra a lei, na mídia chinesa em geral a censura a conteúdo LGBT é comum. Empresas donas de canais de TV e estúdios proíbem material que tenha “relacionamentos anormais como incesto, homossexuais, perversão sexual, assédio sexual, abuso sexual e similares”.

A grande maioria das autoras chinesas está de mãos atadas, pois qualquer conteúdo BL que seja levemente explícito pode ser bloqueado ou retirado da internet. Franquias famosas entre as fujoshis chinesas como Spirit Pact ou Mo Dao Zu Shi escapam da censura devido a quase ausência de cenas BL (e porque são extremamente lucrativas). Uma piada comum entre fãs chinesas é que “nada abaixo do ombro é permitido”.

O correto seria dizer que conteúdo BL na China costuma viver períodos de maior liberdade em relação ao pode ser publicado alternados com épocas de censura mais intensa e constante vigilância.

Porém, nem tudo está perdido, pois é possível publicar quadrinhos com conteúdo erótico pelo menos no formato físico em Taiwan. Pornografia e conteúdo erótico é permitido na ilha – contanto que seja vendido somente para maiores de idade e em lugares específicos.

Infelizmente não tenho fotos de pintos 2D de quadrinhos chineses para mostrar para vocês aqui.

Coreia do Sul

A Coreia tem um passado de censura forte a material LGBT e conteúdo pornográfico, mas como é a situação hoje? Segundo a minha pesquisa, quadrinhos eróticos não são proibidos por lei, mas o acesso a menores de idade é fortemente vetado.

Sites que publicam webcomics BL como Lehzin, Toomics, BomToon, entre outros, requerem que o usuário informe um número de documento semelhante ao nosso CPF para comprovar que é maior de idade antes de acessar a área com conteúdo erótico.

Além disso a Coreia do Sul possui uma lei semelhante ao Japão no que se refere a conteúdo “obsceno” que não tem uma definição clara. Sendo assim, autores e editoras que publicam material +18 também aplicam uma autocensura em suas obras para evitar qualquer problema com a lei. Plataformas como o Lehzin já quase foram banidas por apresentar imagens “obscenas” de órgãos genitais e cenas de sexo

A forma de censura mais comum de pintos coreanos são cobri-los por inteiro de branco. Como muitas webcomics são coloridas, o efeito “sabre de luz” ocorre.

No entanto, também acontece da censura ser de um nível que o pinto praticamente não existe.

E do lado de cá?

Apesar dos fãs de BL na Ásia sofrerem com essa censura, poucas impedem do mesmo conteúdo ser vendido aqui no Brasil ou em outros países do ocidente sem censura. Quando se trata de edições físicas, nós não temos as mesmas restrições, então não é incomum que mangás BL sejam vendidos em países como Estados Unidos e França sem a censura que existe na publicação no seu país de origem.

E isso não vale só para quadrinhos. Animes e games licenciados fora do Japão podem tirar a censura e serem vendidos por aqui sem nenhum problema. Um caso popular é o do anime Sensitive Pornograph que foi descensurado ao lançarem o DVD fora do Japão.

Já no Brasil, não existe nenhum empecilho da lei para publicar mangás BL sem censura. Os motivos para publicar mangás com censura aqui são puramente práticos como, por exemplo, a editora original não possuir o mangá sem censura ou não permitir que alterações sejam feitas no quadrinho ao ser publicado internacionalmente.

Por isso que a editora NewPop fará história ao publicar o manhwa On or Off sem censura no Brasil. Pois isso não seria possível na Coreia do Sul.

No entanto, no âmbito digital é possível que a censura continue seja na Ásia ou aqui. As versões em inglês de sites coreanos continuam a manter a censura e plataformas como Tapas tem regras rígidas com relação a publicação de material erótico. Como esses serviços possuem aplicativo, eles precisam seguir essas medidas para evitar que sejam considerados pornografia e banidos da Google Play ou da Apple Store.

Inclusive serviços como Tapytoon e Toomics nem permitem que os quadrinhos +18 seja acessados pelo aplicativo oficial, somente pelo computador.

Enquanto isso, no cenário fora da lei, muitos scanlations ao traduzirem os mangás acabam tomando certas ‘liberdades’ e desenhando os pintos por cima da censura.

Os resultados variam tanto para o bem quanto para o mal.

Como pode ver, algo simples como querer ver pintos nas cenas mais sensuais do seu mangá BL favorito é algo mais complicado do que parece. É uma questão vai de encontro a noções sobre o que é considerado erótico ou pornográfico e de como não chamar a atenção de órgãos governamentais que não entendem o sucesso de histórias desse tipo.

Por isso é preciso celebrar iniciativas como a do selo de animes BL Blue Lynx que lutou para que o anime de Saezuru Tori wa Habatakanai não cortasse as cenas de sexo mesmo que o filme se tornasse um risco financeiro.

Sexo é algo natural, que faz parte da vida da maioria das pessoa,s e não estaríamos aqui em ele. Infelizmente essa é a realidade que autores de BL passam ao redor do mundo ao tentarem retratar algo tão banal.

Fontes:

Organization for Transformative Works – The censorship problems faced by anime and manga fans

Kristine Michelle L. Santos (2020): The bitches of Boys Lovecomics: the pornographic response of Japan’s rotten women, Porn Studies, DOI:10.1080/23268743.2020.1726204

Censuras de pênis de acordo com as editoras japonesas de BL.

Korean Times – Watchdog hit for excessive digital censorship