Resenhas

Ookami e no Yomeiri

Classificação: 🍋🍋🍋🍋

Ookami e no Yomeiri ~Ishu Konintan~ é um mangá de volume único de autoria de Hana Inui, sendo seu primeiro trabalho. Publicado na onBlue entre julho de 2018 e agosto de 2019, o mangá chamou atenção no Japão e ficou em segundo lugar no Chil Chil BL Awards de 2020 na categoria Melhor BL revelação.

Aviso de gatilho: A história tem cenas de estupro e bestialidade. Essas cenas não tem tanto foco nessa resenha, mas deixo aqui o aviso.

A história apresenta um mundo de pessoas com características de animais vivendo em um ambiente similar ao do Japão feudal. O protagonista Kaede pertence à uma tribo de coelhos que passa por dificuldades de sustento. Uma noite, Kaede e sua família são surpreendidos com a aparição de um membro da tribo de lobos que traz a possibilidade de prover comida para a família de Kaede por um determinado tempo. A condição? Kaede deve ir morar na tribo dos lobos como futura noiva da família (sim, é noiva mesmo que é falado) . Pressionado por seus parentes e pela situação precária, Kaede se muda para a tribo dos lobos onde ele deverá acostumar-se com sua nova vida e casar-se com Ren, o escolhido para ser seu noivo.

Algo que eu gostei muito no mangá foi o fato que mesmo com o clichezão de um personagem sendo obrigado a casar-se com o outro, boa parte da tribo dos lobos trata o Kaede de uma maneira amigável, realmente tentando tornar ele parte da família. Kaede é um personagem interessante de se acompanhar. Colocado em uma situação contra sua vontade por preocupar-se com sua tribo, ele tenta ao máximo fazer o melhor da sua nova vida. No início do mangá ele pode passar a impressão de ser infantil até (impressão que talvez seja amplificada por sua aparência), mas ele comporta-se de forma muito madura na situação de seu noivado, tratando os membros da tribo dos lobos que ele tem que conviver agora com consideração e tentando aprender mais sobre eles e sobre o local no qual viverá agora. Ele é muito sincero com suas emoções, mas tenta ao máximo se adaptar à sua futura casa.

É com seu futuro marido que ele tem mais atritos por não conseguir estabelecer uma forma de comunicação. Ren, futuro marido de Kaede e futuro chefe da tribo, se fecha totalmente para a existência dele, entendendo Kaede apenas como um compromisso formal em seu papel como chefe.

Devido aos atritos entre os noivos e aos rituais de casamento que torna obrigatório que os dois convivam e engajem em atividades sexuais, a relação entre os dois torna-se um pouco cansativa de ler no começo porque é impossível não ficar revoltado com o Ren que continua rejeitando Kaede, mesmo enquanto avança sexualmente sobre ele, ainda que por “obrigação”. O egoísmo de Ren acaba por deixar Kaede vulnerável para avanços sexuais de outro indivíduo de maneira muito desconfortável. O envolvimento sexual entre os dois no começo é desagradável de se ler porque é claro que os dois não querem estar ali, não querem se envolver e estão ali apenas por uma série de diferentes obrigações. É totalmente compreensível que isso torne o mangá um pouco intragável para leitores que tenham problemas com isso.

(Outro aviso: a maioria das vezes que eles fazem sexo eles mantém a aparência humana. Contudo, em um capítulo acontece deles transarem enquanto um deles tá fora de si e na forma animal. TOTALMENTE na forma animal. Então, já deixo esse outro aviso caso não seja sua praia também).

A relação entre os dois no começo é cansativa. Como lemos a partir do lado de Kaede inicialmente, fica bem fácil detestar o Ren pelo modo que ele trata o futuro parceiro.

É a partir do capítulo 2 ou 3 que a relação dos dois começa a avançar. Ao conviver com outras pessoas da tribo dos lobos, Kaede tem a oportunidade de ver seu futuro marido com melhores olhos ao observar ele tornando-se mais espontâneo em sua presença. Ren também acaba se abrindo para Kaede, mesmo que muito lentamente, e uma relação de confiança passa a ser construída.

Pode parecer que tenho muitas ressalvas sobre o mangá ao longo do texto, mas no todo ele torna-se muito bacana de ler por mostrar de forma tão explosiva o desenvolvimento da relação entre duas pessoas que não se conhecem e que são jogadas do nada em um compromisso tão sério e íntimo como o de um noivado. Ren e Kaede são bem chatos um com o outro no começo, com o Ren sendo mais fechado ainda, por motivos que são explicados ao longo da história. Contudo, a relação dos dois evolui de uma maneira bem simples mas divertida de se ler com a tradição e cultura daquele mundo que eles habitam como pano de fundo.

Sendo o primeiro mangá de Hana Inui, gostaria de destacar como amei a arte dela. É uma arte que pode ser considerada simples, mas salta aos olhos em diversos painéis. Acima de tudo, as cores dela são maravilhosas e engrandece a arte de uma forma muito bacana e gostosa de se ver.

A premiação de mangá revelação é mais que merecida, tanto pela arte, quanto pela história e fico muito empolgada de ver o que ela pode criar no futuro.